Título: O médico não queria fazer o procedimento
Autor: Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2012, Vida, p. A16

Professora enfrentou resistência por causa da idade e dos riscos; transplante foi bem-sucedido

Um exame de sangue rotineiro revelou que a professora Angela Perin Aily tinha mielofibrose, ou seja, a sua medula óssea passou a ser ocupada por um material fibroso. A doença ficou assintomática até 2010, quando a medula parou de produzir elementos do sangue. Angela, então, enfrentou uma anemia severa.

"Cheguei a tomar de duas a três bolsas de sangue por semana. O baço inchou muito, o fígado ficou avariado. Recebi bolsas de sangue de mais de cem pessoas diferentes", ela lembra.

Ainda assim, o hematologista que a acompanhava em Rio Claro, a 190 quilômetros de São Paulo, não aconselhava o transplante. "Ele não queria fazer por causa da minha idade. Disse que a minha chance era de 25%. Eu não tinha mais para onde correr."

Angela procurou o Hospital Israelita Albert Einstein, onde fez o transplante em 31 de agosto de 2011, aos 53 anos. "Não foi fácil. A quimioterapia para matar toda a doença é muito forte, ela te debilita. Passei 70 dias internada, fiquei completamente isolada, tive um AVC, desenvolvi diabete. Mas fui amparada."

Um ano depois do transplante, Angela retoma aos poucos as atividades e vai recomeçar a tomas as vacinas. "O transplante me devolveu a vida e as possibilidades. Você volta a fazer planos, a pensar em daqui a uma semana, daqui a dois meses, daqui a um ano."

Angela passou por algumas mudanças - o sangue mudou de A para O; o cabelo, sempre muito fino, encrespou e cresceu volumoso. Ainda está aprendendo a lidar com ele.

"Estou mais feliz do que fui antes", conta a professora, que é voluntária num grupo para captação de doadores de sangue e medula. "É uma forma de devolver tudo o que eu recebi." / C.T.