Título: França ataca cidadania de bilionário
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2012, Economia, p. B9

Governo francês ameaça romper tratados com Bélgica se país conceder cidadania ao francês Bernard Arnault, dono da Louis Vuitton

O governo da França ameaçou ontem rever os acordos fiscais com a Bélgica caso o bilionário francês Bernard Arnault, dono do grupo LVMH - que tem entre suas marcas a Louis Vuitton -, venha a receber a nacionalidade belga.

Embora o empresário tenha informado à imprensa que não pretende se tornar um exilado fiscal, e sim apenas pedir o passaporte belga, o governo de François Hollande trabalha para dissuadir outros afortunados a sair do país em razão do imposto sobre fortuna de 75% sobre salários anuais superiores a € 1 milhão.

O pedido de nacionalização de Arnault se transformou em uma polêmica nacional e acirrou ainda mais o estado de animosidade entre parte da população e as classes mais abastadas do país. Isso porque o governo suspeita que o bilionário quer partir para fugir do imposto provisório - válido por dois anos - anunciado por Hollande para salários milionários.

Em nota enviada à agência AFP no domingo, Arnault garantiu que não pretende transferir seu domicílio fiscal para a Bélgica, mas apenas receber a nacionalidade.

Seu "companheiro", também um bilionário, é de nacionalidade belga. Ainda assim, a explicação não satisfez o governo.

Ontem, o ministro da Indústria, Arnault Montebourg, apelou ao empresário que permaneça no país. "Com US$ 41 bilhões, valor de sua fortuna, nós poderíamos reorganizar o Seguro Social, recapitalizar a Peugeot, salvar a ArcelorMittal, fazer estradas sem pedágio", afirmou o ministro.

"É hora dele render homenagem ao país que lhe permitiu ser o que ele é." Além do governo, parte da imprensa de esquerda da França também se mostrou irada contra Arnault.

'Caia Fora'. Em manchete, a edição de ontem do jornal Libération escreveu: "Caia fora, rico idiota". A frase foi um trocadilho com a declaração chocante - "Caia fora, pobre idiota" - feita pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy a um aposentado que o criticava no início de seu mandato.

Muito polêmica, a taxa de 75% criada pelo governo Hollande será válida 24 meses e vai atingir menos de 0,5% da população. Enquanto vigorar, o imposto renderá € 300 milhões ao governo.

A medida anunciada pelo governo faz parte do esforço do governo francês de tentar reduzir o déficit público em 2013 para 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

Arnault já emigrou uma vez. Em 1981, durante a última presidência socialista francesa, o maior acionista da grife LVMH emigrou para os EUA.