Título: Poço seco de concorrente na Namíbia faz ações da HRT desabarem 12%
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2012, Negócios, p. B12

O anúncio de que a empresa Chariot Oil & Gas não encontrou petróleo em quantidades comercializáveis num poço perfurado na Namíbia derrubou as ações da HRT, empresa brasileira que também atua na costa africana. A ação ordinária (ON, com direito a voto) desabou ontem mais de 12%.

No ano, a empresa - que mantém foco na Namíbia e no Amazonas - acumula queda de quase 78%. Ontem, os papéis da companhia chegaram a entrar em leilão na bolsa duas vezes, depois que a notícia sobre o poço de Kabeljou se espalhou.

O poço será fechado, mas a área ainda está em avaliação. À tarde, a Petrobrás, que é a operadora do bloco, com 30% de participação, também ratificou a notícia sobre o poço seco. Mas, as ações da estatal não sofreram o revés dos papéis da HRT, que atua em área vizinha.

Numa teleconferência de mais de uma hora, em que classificou de "erradas" as conclusões do mercado sobre o fracasso da Chariot, o presidente da HRT, Marcio Rocha Mello, tentou, sem sucesso, convencer analistas e investidores de que o episódio não compromete os planos da empresa na região. As explicações não foram suficientes para acalmar os ânimos do mercado.

Durante a teleconferência, Mello fez questão de destacar que o poço seco da Chariot está a mais de 100 quilômetros de distância do local de exploração da HRT. "A presença de bons reservatórios é uma característica que muda de lugar para lugar", afirmou. "Estamos muito otimistas de que vamos alcançar os objetivos que estamos prevendo para nossos poços agora." Antes da teleconferência, analistas do Itaú BBA avaliaram que a notícia poderia desanimar investidores e frustrar os planos da HRT de realizar um farm-out (venda de direitos de concessão) na região.

A Petrobrás, em nota, disse que, por enquanto, mantém operações no país africano, no bloco em que a Chariot é minoritária, com 25% e a também britânica BP detém os restantes 45%. Em um minucioso detalhamento em seu site, a Chariot ressalta as semelhantes da área na costa sul-africana com a região brasileira do pré-sal.

Estimativas iniciais da HRT apontavam um montante de US$ 460 milhões para um terço dos seus ativos na Namíbia, o que é quase o valor de mercado atual da empresa. "A nossa opinião é de que a posição da HRT se enfraquece significativamente em uma possível negociação, reduzindo ainda mais as chances de a empresa obter um "valuation" próximo da sua expectativa inicial", diz relatório do Itaú.

Executivos da petroleira, entretanto, rechaçaram essa possibilidade, afirmando que o poço malsucedido da Chariot não altera os rumos de suas negociação com grupos internacionais interessados em adquirir participação nos blocos explorados na Namíbia. "A maioria das companhias com quem estamos negociando não está preocupada com esse resultado (da Chariot), porque são companhias de exploração", disse o presidente da HRT America, Wagner Peres.

Ele confirmou, porém, que eventuais descobertas de reservas no local têm "efeito psicológico" positivo para as negociações, mas nada que altere substancialmente o rumo das conversações. "O resultado desse poço não muda nossa matriz de risco nessa área", disse.

Tempo. Apesar de assegurar que a companhia está confiante na existência de hidrocarbonetos no local, Mello afirmou que, para "provar" essa teoria, é preciso dar tempo para o plano de exploração no local avançar. Apesar de afirmar que o anúncio da Chariot não altera o rumo das negociações de venda de participações, ele ressaltou que a companhia está "aberta" a discutir com o futuro parceiro o plano de exploração na costa da Namíbia. O executivo, contudo, não divulgou qualquer detalhe sobre o andamento dessas conversações.

Questionado por analistas, Mello pontuou diversas vezes que a companhia não tem problemas de caixa. "A prioridade da HRT é a preservação de caixa", disse ele após afirmar que a companhia possui recursos para honrar compromissos até meados de 2014. / COLABOROU BETH MOREIRA