Título: Refinaria já tem equipamentos para óleo PDVSA
Autor: Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2012, Economia, p. B10

Mesmo sem garantia de que vai contar com sociedade venezuelana, Petrobrás comprou equipamentos para processar petróleo do país, que é mais pesado

Mesmo sem ter garantido o recebimento do óleo venezuelano, a Petrobrás já comprou praticamente todos os equipamentos para processá-lo na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em construção em Pernambuco. A antecipação da compra foi um dos motivos de o projeto ter, em sete anos, multiplicado por quase dez vezes seu custo, hoje em US$ 20,3 bilhões. Se não receber o óleo venezuelano, a Petrobrás terá de importá-lo para suprir metade da capacidade da unidade, de 230 mil barris/dia.

Segundo fontes, uma eventual saída da estatal PDVSA, que até hoje não aportou os 40% prometidos na obra, dependerá da própria companhia venezuelana ou da decisão bilateral dos governos do Brasil e da Venezuela. Já a Petrobrás, que investiu em equipamentos específicos para o pesado óleo venezuelano e contava com o capital da sócia, defende a sociedade com a PDVSA e deve estender indefinidamente os prazos para sua entrada.

"Há um custo para trabalhar dois óleos", disse ontem em audiência no Senado a presidente da Petrobrás, Graça Foster, sobre o fato de o empreendimento ser projetado para processar óleo venezuelano (50%) e óleo de Marlim, da Bacia de Campos (50%).

"Eles (PDVSA) precisam fazer parte desse projeto. Estão no final de resolver as garantias bancárias. Se em novembro não apresentarem garantias, vou discutir novo prazo, porque quero que eles venham", disse a executiva.

Os prazos para que os venezuelanos apresentem as garantias para um empréstimo de US$ 4 bilhões com o BNDES vêm sendo prorrogado sucessivamente. No começo deste ano, foi adiado para novembro. A Rnest será a primeira refinaria a ser inaugurada pela Petrobrás em quase quatro décadas. Não produzirá gasolina; será destinada basicamente à fabricação de diesel.

A Petrobrás já ergueu sozinha mais de 62% das obras físicas e a inauguração está prevista para 2014, mesmo período em que a petroleira começará a elevar a curva de produção do pré-sal. Mas apesar de, internamente, ter oferta de petróleo e demanda por combustíveis, a empresa teria que importar metade do suprimento.

A Petrobrás confirma que o suprimento de petróleo venezuelano para a Refinaria Abreu e Lima depende da concretização da entrada da PDVSA na sociedade. O contrato de fornecimento foi discutido e acordado, mas só será assinado quando a parceria iniciar, diz a companhia em resposta à Agência Estado.

Compra feita. Todos os equipamentos foram comprados, exceto aqueles que constituem uma Unidade de Recuperação de Enxofre, necessária caso a PDVSA concretize a sociedade. A diferença fundamental entre o petróleo Marlim e o venezuelano é o maior teor de enxofre existente no produto proveniente da Venezuela. O óleo brasileiro em geral tem menos enxofre e por isso seria necessário buscar de outro fornecedor semelhante ao venezuelano.

A Petrobrás diz que, como toda refinaria, a Rnest terá flexibilidade para processar uma gama de petróleos, tanto nacionais quanto internacionais. Mas as adaptações elevariam ainda mais o custo, equipada com complexos e caros equipamentos para processamento de óleo pesado. Para o óleo do pré-sal, mais leve, seriam necessários equipamentos mais simples.

O maquinário para óleo pesado, no entanto, já foi comprado. O serviço também foi contratado. A Petrobrás diz que as contratações de equipamentos e serviços feitas de forma antecipada (durante a gestão José Sergio Gabrielli) tiveram "o objetivo de garantir prazos em função do aquecimento do mercado fornecedor de bens e serviços na ocasião".

Graça vem reafirmando que a companhia aprendeu com os erros da Rnest e não os repetirá nos projetos das próximas refinarias em construção (Premium I e II e Comperj 2.ª fase).