Título: Com comunicado em árabe, ONU tenta acalmar islâmicos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2012, Internacional, p. A18

A ONU rompeu uma tradição e lançou de Genebra um apelo em árabe para tentar acalmar a onda de manifestações e garantir que a organização também condena o filme que teria motivado dos protestos. No comunicado, ela alertou que tanto extremistas no Ocidente quanto radicais islâmicos estariam manipulando a situação para agravar o conflito.

Ontem, a comissária de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, pediu que líderes religiosos e políticos fizessem tudo para restabelecer a calma. O comunicado redigido em árabe foi difundido na internet, no Twitter e em todas as redes sociais. Nele, a entidade atacou o vídeo que satiriza o profeta Maomé, acusando-o de ser "malicioso e deliberadamente provocador". A ONU vem tentando se distanciar da imagem de ser uma organização ocidental. Em 2003, em Bagdá, foi alvo de um atentado que deixou mais de 20 mortos. Recentemente, ela também foi alvo de ataques de grupos islâmicos em Argel, Cabul e na Nigéria.

Há anos, os corredores da ONU já identificaram a questão da intolerância religiosa e a blasfêmia como um potencial campo de manipulação por governos. Resoluções sobre liberdade de expressão são atacadas por grupos muçulmanos, que acusam o Ocidente de permitir o ataque a sua religião. Para o Ocidente, não são as religiões que devem ser protegidas, mas as pessoas.

Não por acaso, a comissária fez questão de condenar as mortes de diplomatas americanos em Benghazi e deixou claro que a violência em mais de 20 países registrada ontem era "inaceitável". Para ela, a melhor resposta que os muçulmanos poderiam dar seria ignorar o filme e não dar oxigênio para sua publicidade. No entanto, ela preferiu dizer que a culpa era de ambos os lados, que estão tomados por radicais.