Título: Protestos crescem no Líbano e no Afeganistão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2012, Internacional, p. A16

Atos antiamericanos violentos ocorrem também na Indonésia e no Paquistão

Os protestos antiamericanos em países islâmicos completaram ontem uma semana. O maior deles, no Líbano, reuniu 500 mil manifestantes no sermão do líder espiritual do movimento xiita Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah. Ele apareceu em público para criticar os EUA e pedir novos protestos na região. Em sua maioria, os atos foram pacíficos, mas no Afeganistão, Paquistão e Indonésia houve confrontos com a polícia.

A onda de revolta provocada pelo filme Inocência dos Muçulmanos, que ridiculariza o profeta Maomé, já deixou 10 manifestantes e quatro diplomatas americanos mortos - entre eles o embaixador na Líbia, Jay Christopher Stevens. Em sete dias foram registrados protestos em cerca de 20 países da África, Oriente Médio e Ásia.

O líder do Hezbollah não aparecia em público desde dezembro. No discurso, ele incitou a multidão que usava as cores do movimento radical xiita a não se calar perante as ofensas a Maomé. "Esse é o começo de uma campanha séria que precisa continuar em todo o mundo islâmico em defesa do profeta de Alá", disse o xeque. "Enquanto o sangue correr nas nossas veias, não nos calaremos diante dos insultos ao nosso profeta."

Em resposta, a multidão gritou palavras de ordem como "A América é o Grande Satã", "Morte a Israel" e "Nós nos sacrificaremos por ti, Maomé".

O sermão de Nasrallah, que durou cerca de 15 minutos, foi dado na zona sul de Beirute, conhecido reduto do Hezbollah e não houve incidentes violentos. Não foram registrados protestos na Embaixada Americana em Beirute, que fica do outro lado da cidade.

Um funcionário do departamento de Estado disse em Washington que a embaixada no Líbano, protegida por um forte esquema de segurança, não esteve ameaçada ontem.

No Afeganistão, houve protestos violentos pela primeira vez. Um grupo de centenas de pessoas queimou carros e atirou pedras contra uma base americana em Cabul. A multidão gritava "Morte à América e àqueles que fizeram o filme insultando nosso profeta."

Líderes religiosos afegãos pediram calma. "Nossa responsabilidade é mostrar uma reação pacífica, com protestos pacíficos. Não firam pessoas, nem propriedade pública ou privada", pediu o clérigo Karimullah Saqib.

Os manifestantes também queimaram pneus para erguer barricadas nas ruas da capital afegã. Segundo a polícia, 800 pessoas foram impedidas de se aproximar de prédios públicos no centro da cidade. Cerca de 20 policiais ficaram feridos.

O Paquistão também viveu um dia de protestos violentos. Centenas de manifestantes na região tribal do noroeste do país enfrentaram a polícia após pôr fogo em um escritório de jornalistas e um prédio público. Na cidade de Wari, a polícia dispersou a turba enfurecida com bastões e tiros para o alto. Um manifestante morreu baleado.

A cidade de Karachi, um dos polos econômicos do país, passou pelo segundo dia seguido de violência. Centenas de pessoas tentaram invadir o consulado americano e foram repelidas pela polícia. Ao menos 40 estudantes foram presos.

Na Indonésia, país muçulmano mais populoso do mundo, centenas de pessoas atiraram pedras e bombas incendiárias contra a Embaixada dos EUA em Jacarta. Ao menos dez policiais ficaram feridos. Os manifestantes também queimaram um retrato do presidente americano, Barack Obama, que passou parte de sua infância no país, e bandeiras dos EUA.

"Deus é o maior! Destruiremos a América como destruímos essa bandeira", gritava a multidão. Durante o fim de semana, franquias de restaurantes americanos, como o KFC e o McDonalds, foram vandalizadas. / REUTERS