Título: PT tenta quebrar tradição carlista em Salvador
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2012, Nacional, p. A8

Na semana em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve na Bahia para fortalecer as candidaturas do PT, a campanha na capital chegou ao nível mais alto de tensão. O candidato do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto, que resgatou a memória do avô, e o petista Nelson Pelegrino, amparado no prestígio de Lula e da presidente Dilma Rousseff, trocam acusações diariamente. Até o horário dos candidatos a vereador na TV tem sido usado para ataques.

ACM Neto procura renovar o carlismo, movimento comandado durante quase 40 anos pelo governador e senador baiano Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007. Pelegrino tenta levar o PT pela primeira vez à Prefeitura de Salvador. Nessa luta, as cotas raciais nas universidades e as greves dos professores e da Polícia Militar são as principais armas de Pelegrino e ACM Neto, respectivamente.

O PT lembra a ação do DEM no Supremo Tribunal Federal, que tentou barrar as cotas raciais na Universidade de Brasília, e acusa ACM Neto de ser contra as cotas. O candidato do DEM diz que sempre defendeu as cotas e responde com ataques ao governador Jaques Wagner (PT) e imagens da precariedade na educação e na saúde e do aumento na violência na capital.

Na disputa pelo governo da terceira maior cidade do País em população, com 2,7 milhões de habitantes, Pelegrino e ACM Neto discordam em quase tudo, mas têm dois pontos em comum.

Eles fogem de qualquer vínculo com o prefeito João Henrique (PP), de quem já foram aliados em momentos diferentes. Com a popularidade em baixa - 5% de bom e ótimo e 72% de mim e péssimo, segundo o Ibope Henrique se declara neutro na disputa.

O PP está na coligação de Pelegrino, que soma 15 partidos, mas o prefeito diz ser mais atacado pelo PT do que pelo DEM.

Pelegrino resgatou uma declaração do adversário no segundo turno de 2008, quando ACM Neto apoiou a reeleição do prefeito. “Eu digo sim a Joào”, afirmou o candidato do DEM nà época. A frase virou bordão. Em caminhada na periferia, o candidato do DEM ouviu de um eleitor que o filho de 7 anos pediu que o pai votasse nele. A criança justificou: “Porque ele disse sim a João”. O DEM foi à Justiça contra a propaganda.

Vices. Na cidade onde quase 80% da população é de negros e pardos, segundo Censo 2010, o outro ponto em comum de Pelegrino e ACM Neto é a escolha deuma mulher negra para a vaga de vice. Célia Sacramento, do PV,| está com o candidato do DEM e ; Olívia Santana, do PC do B, conhecida como Negona, é a vice de Pelegrino. Para ACM Neto, a escolha foi uma forma de se aproximar dos movimentos sociais e tentar reafirmar a defesa das cotas. Para Pelegrino, a valorização de uma tradição do partido, a defesa das causas dos negros e das mulheres, entre outras.

Desconfiança

LUIZIANNE LINS

PREFEITA DE FORTALEZA (PT)

“O PSB está sem comando ou existe um comando por trás das disputas com o PT em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte, sinalizando para 2014?"

Posição estratégica. No almoço, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), sentou-se em local estratégico, entre Gam-pos e o candidato do PT à prefeitura do Recife, Humberto Costa, diante de Lula, da ex-primeira-dama Marisa Letícia e da ministra da Cultura, Marta Suplicy. O petista e o governador quase não se falam desde que o PSB se divorciou do PT no Recife e decidiu lançar a candidatura de Geraldo Júlio, líder das pesquisas de intenção de voto.

“Está tudo tranquilo”, minimizou Gosta. Lula ainda não foi ao Recife para não criar mais atritos com Campos, mas ontem cedeu e reservou o dia 26 para subir no no palanque petista no Recife.

Enquanto os convivas degustavam carne de sol, galinha caipira e bobó de camarão, Lula fazia articulações políticas, na tentativa de acabar com as rusgas. Aprefei-: ta de Fortaleza, Luizianne Lins : (PT), não escondeu, porém, que duvida das reais intenções do 1 PSB de Campos em 2014. Embora o governador diga que apoiará a provável candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, petistas avaliam que os movimentos dele indicam a montagem de sua própria candidatura.

“Precisamos ficar de olho. Será que o PSB está sem comando ou existe um comando por trás das disputas com o PT em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte, sinalizando para 2014?”, pergun-touLuizianne. Nacapitaldo Geará, o PSB e o PT vivem às turras.

Jaques Wagner tentou jogar águanafervurae disse que divergências são “inevitáveis” em época de campanha. “Se o PSB decidir o caminho dele, tem todo o direito de segui-lo. Nós temos aliados. Não temos eunucos.”

O presidente do PT, Rui Falcão, também adotou tom mais ameno em relação ao PSB. “Não existem arestas”, insistiu. “Esperamos manter a parceria nacional em 2014.”