Título: Casa Branca recua e reconhece que ataque terrorista matou embaixador
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2012, Internacional, p. A17

Cerco em Benghazi. Após mais de uma semana dizendo que ação contra consulado na Líbia não foi planejada, governo Obama admite que missão diplomática foi alvo de atentado; diplomata teria afirmado estar na "lista de marcados para morrer" da Al-Qaeda

Sob intenso fogo dos republicanos e em meio à campanha eleitoral, a Casa Branca mudou ontem seu discurso e passou a reconhecer que o ataque ao consulado em Benghazi - que resultou na morte do embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens, e de outros três funcionários americanos - foi de fato um "atentado terrorista".

Inicialmente, o governo Barack Obama afirmou que a ação armada contra a missão diplomática, dia 11, não havia sido planejada e era resposta espontânea ao vídeo que ridiculariza o profeta Maomé. A menos de dois meses da eleição, a Casa Branca passou a ser acusada de "camuflar" as causas do ataque e os riscos a outros prédios dos EUA no exterior.

"Evidentemente, o que se passou em Benghazi foi uma ataque terrorista", afirmou o porta-voz da presidência americana, Jay Carney, a jornalistas que viajavam no avião presidencial. "Nosso consulado foi violentamente atacado e o resultado foi a morte dos funcionários americanos."

Citando uma fonte anônima, a CNN noticiou ontem que o embaixador americano morto na Líbia acreditava estar em uma "lista da Al-Qaeda de pessoas marcadas para morrer". Ele teria afirmado temer o rápido fortalecimento de grupos radicais islâmicos na Líbia.

Questionada ontem, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, negou enfaticamente que Washington tivesse pistas sobre um possível ataque a Stevens em Benghazi ou outra região da Líbia. Hillary disse que não tem "absolutamente nenhuma informação ou razão para acreditar" que o diplomata americano sabia que estava na mira de jihadistas.

Em meio à mudança de discurso do governo americano, a secretária de Estado anunciou a criação de uma comissão especial para investigar as circunstâncias do ataque ao consulado. O grupo será chefiado pelo veterano diplomata Thomas Pickering, que já foi embaixador dos EUA na ONU e número 2 da chancelaria americana.

Agentes do FBI chegaram à Líbia e, juntamente com autoridades locais, buscaram novas informações sobre o cerco à missão diplomática americana. Hillary evitou comentar se a Al-Qaeda estaria por trás do ataque, mas culpou "extremistas que tentam minar a liberdade" pelos protestos na Líbia, no Egito e na Tunísia.

Questionado sobre a possibilidade de o assassinato do embaixador ter relação com os atentados de 2001, Carney respondeu: "O ataque ocorreu em 11 de setembro de 2012 e nós usamos o mesmo calendário que vocês". Além do porta-voz da Casa Branca, o diretor de contraterrorismo do governo americano, Matthew Olsen, também indicou que a ação foi um atentado terrorista. / NYT