Título: Serra dá preferência a agenda informal
Autor: Boghossian, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2012, Nacional, p. A8

Nos últimos dias antes do 1º turno, o candidato do PSDB intensificou compromissos não divulgados para reforçar o contato com eleitores

Sem câmeras de TV, fotógrafos ou repórteres acompanhando seus passos, José Serra (PSDB) bateu papo com funcionários de uma loja de lingeries, comeu batatas fritas de um rapaz sem pedir licença, tomou um gole de cerveja em um botequim e andou de metrô pagando passagem. Nos últimos dias antes do primeiro turno da eleição em São Paulo, o tucano intensificou uma agenda de caminhadas discretas para tentar reforçar seu contato com os eleitores.

Enquanto Celso Russomanno (PRB) e Fernando Haddad (PT) travam uma batalha pública e trocam críticas entre si, o candidato tucano deixou que os ataques aos adversários ficassem restritos à propaganda eleitoral e a ações mais direcionadas, como a distribuição de panfletos pelo correio contra o candidato do PRB.

Nas últimas semanas, Serra passou a fazer breves passeios em ruas comerciais e feiras livres, sem divulgação para a imprensa ou para militantes. Em cada local, ele conversa com, no máximo, 50 pessoas: gasta tempo para pedir votos, explica propostas quando é confrontado e tenta movimentar a propaganda boca a boca nos bairros.

Veterano em disputas, Serra luta contra uma fama de mal-humorado e de candidato pouco afeito a fazer corpo a corpo.

"Você é mais bonito pessoalmente do que na televisão", ouviu de uma senhora no Jaçanã, na zona norte, em uma caminhada anteontem. "Eu preferia o contrário: ser mais bonito na TV e mais feio pessoalmente", brincou Serra, revelando o peso que costuma dar à propaganda eleitoral em suas campanhas.

A estratégia de sua equipe, agora, é tentar ampliar o contato direto entre Serra e os paulistanos nos bairros do centro expandido - onde o desempenho de candidatos do PSDB é tradicionalmente melhor. Os tucanos dizem não divulgar esses eventos para evitar aglomerações, o que permite que o candidato converse, abrace e peça votos.

Na terça-feira, a campanha de Serra só divulgou a realização de um ato oficial de campanha, uma caminhada em Santana. O tucano, no entanto, passou por outras duas ruas comerciais, andou de metrô, foi ao lançamento de um livro e a um jantar.

A agenda restrita poupa Serra de constrangimentos públicos. Quando embarcou na Estação Tucuruvi da Linha 1-Azul do metrô, na zona norte, um professor reclamou e xingou o tucano. "Por que você não anda em trem cheio? Seu lixo!", gritou Rafael de Jesus.

Em uma feira livre de Moema, ontem de manhã, ouviu mais uma vez a cobrança para que cumpra o mandato integralmente se for eleito. "Serra, você vai ficar com a gente os quatro anos?", perguntou um homem. "Não se preocupe", respondeu. Depois de bater papo com feirantes e fregueses, pediu a uma menina ajuda para "juntar votos". "Tem que pegar os indecisos."

Cerveja. Anteontem, Serra parou dois minutos para conversar com um casal que almoçava em um bar do Tucuruvi. Depois de cumprimentá-los, pediu um gole de cerveja, tomou quase meio copo de uma vez e agradeceu.

"Esse contato não muda meu voto", afirmou o encarregado de serviços gerais Osvaldo Elói da Silva. "Estou em dúvida entre o Serra e o Russomanno, mas isso não vai fazer eu me decidir."

Serra também deu palestras para estudantes de duas universidades nos últimos dias, com foco no voto dos jovens - segmento em que seu desempenho é mais fraco, com 11% entre os paulistanos de 16 a 24 anos ante 31% no eleitorado com 50 anos ou mais.