Título: Tsunami de dólares continua distante do País
Autor: Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2012, Economia, p. B5

O tsunami de dólares temido pelo governo continua distante da economia brasileira. Dados do Banco Central mostram que a saída de recursos do País superou a entrada pelo segundo mês consecutivo em setembro, em US$ 534 milhões. No ano, entraram US$ 22,5 bilhões, uma queda de 67% em relação ao verificado no mesmo período de 2011.

A queda no fluxo de dólares é puxada pelas operações financeiras, como investimentos, remessas de lucros e empréstimos externos, que caíram 83% em relação ao ano passado. Pesa também a redução do saldo comercial, que caiu quase pela metade.

Nos quatro primeiros meses deste ano, chegaram a entrar mais de US$ 25 bilhões no País. Desde então, com as medidas do governo para conter esse movimento e a piora da avaliação do Brasil no exterior, saíram quase US$ 3 bilhões. Nesse período, o dólar subiu cerca de 20%.

Há cerca de dez dias, o Ministério da Fazenda ameaçou voltar a elevar impostos para conter a entrada de capital especulativo, que poderia ser gerada pela decisão dos bancos centrais de EUA, Europa e Japão de injetar mais dinheiro em suas economias.

O governo brasileiro vê riscos de "vazamento" desses recursos para o País, provocando um "tsunami monetário". A presidente Dilma Rousseff tem criticado o afrouxamento monetário dos países ricos em praticamente todos os seus discursos.

O diretor executivo da corretora de câmbio NGO, Sidnei Nehme, avalia que o Brasil deixou de ser o oásis do ganho fácil do mercado global e está praticamente blindado ao capital especulativo. O economista avalia ainda que a tendência para o preço da moeda americana é de alta.

Analistas também destacam a redução do espaço de especulação com a moeda, ante as restrições do governo desde 2011 e ao fato de o BC atuar para manter a cotação entre R$ 2 e R$ 2,05. "O BC está vigiando o mercado, sem deixar espaço para o dólar cair", diz José Carlos Amado, da Renascença Corretora.

No mês passado, a saída de dólares foi puxada pelo comércio exterior, que registrou saldo negativo de US$ 1,7 bilhão, pior resultado em 24 meses. As importações se mantiveram em níveis elevados e as exportações atingiram o menor valor desde fevereiro do ano passado.