Título: Chávez marcha de sua cidade natal a Caracas para mobilizar base eleitoral
Autor: Raatz, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2012, Internacional, p. A12

Após demonstração de força da candidatura de Capriles em comício que reuniu milhares na capital venezuelana no fim de semana, presidente tenta mostrar vigor e volta a pedir apoio para conseguir 10 milhões de votos no domingo e derrotar opositor

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, começou ontem uma marcha de quatro dias em sua cidade natal, Sabaneta de Barinas, rumo ao Palácio de Miraflores, em Caracas. Ao longo dos 477 quilômetros, o líder bolivariano pretende mobilizar partidários para neutralizar a demonstração de força que o candidato da oposição, Henrique Capriles, deu em um comício na capital venezuelana no domingo.

Em um ato na Praça Bolívar, no centro de Sabaneta, o presidente convocou seus partidários a votar. Chávez pediu que o povo trabalhe sem descanso por uma vitória "incontestável" contra Capriles. "Temos de ganhar com a maior diferença possível", afirmou. "Se possível, com 10 milhões de votos."

Na Venezuela, o voto é facultativo. Nas eleições legislativas de 2010, as últimas realizadas no país, 17 milhões de eleitores foram às urnas. Se o índice de comparecimento for o mesmo da votação anterior, com 10 milhões de votos o presidente teria 58% da preferência do eleitorado, índice próximo ao de suas vitórias em 1998, 2000 e 2006.

Entre os principais institutos de pesquisa, no entanto, apenas o GIS XXI, estatal e chefiado pelo ex-ministro da Comunicação Jesse Chacón, faz uma projeção próxima da almejada pelo presidente. O último levantamento do instituto dá a Chávez 56% da preferência eleitoral. Capriles tem 30% e 14% não opinaram ou estão indecisos. Para o Datanálisis - dos institutos venezuelanos, o de maio credibilidade - Chávez conta com 47,3% da intenção de voto. Capriles tem 37,2% e 15,5% não responderam.

No comício em Barinas, Chávez mostrou confiança na vitória. "No domingo, que ninguém duvide, arrasaremos nas eleições e lançaremos com mais força o segundo ciclo socialista até 2019", disse o presidente.

Chávez ainda pediu a mobilização dos chavistas na reta final da eleição. "No fim de semana temos de trabalhar como formiguinhas", disse. O presidente também solicitou que os eleitores compareçam cedo aos centro de votação.

"Nós vamos ganhar. Eles não podem evitar isso", completou. Chávez, que se recupera de um câncer, disse estar se sentindo muito bem de saúde e preparado para a reta final da disputa.

O líder bolivariano voltou a vincular Capriles ao fim dos avanços sociais obtidos na Venezuela nos últimos anos. "Se vencer a burguesia, quem mandará em Miraflores não será o candidato. Ele seria um fantoche", afirmou. "A Venezuela perderia sua independência e o povo, a soberania. Seria governado novamente pela burguesia, pela corrupção e pelo "império ianque"."

Chávez ainda acusou Capriles - sem apresentar provas - de receber ajuda de máfias de narcotráfico. Segundo o presidente, empresários e "máfias que lavam dinheiro para traficantes de drogas" estariam financiando a campanha da oposição. O rival do presidente negou as acusações. Segundo Capriles, Chávez está tentando "enlamear" a campanha.

No fim da noite de ontem, milhares de partidários do chavismo esperavam o presidente no Estado de Portuguesa. A marcha de Chávez passa hoje pelos Estados de Lara e Yaracuy e chega amanhã a Aragua e Carabobo. A expectativa é a de que seja concluída na quinta-feira, na capital. "Vamos inundar Caracas no dia 4", prometeu Chávez.

No domingo, partidários de Capriles tomaram as ruas da capital venezuelana, em um evento que reuniu milhares de pessoas. De acordo com especialistas em opinião pública, o desafio de Capriles é conquistar a preferência dos indecisos para diminuir a vantagem de Chávez, já consolidada. Não há segundo turno no país.

"Chávez tenta publicamente criar uma imagem de vitória inevitável para conter o crescimento de Capriles", explicou ao Estado o cientista político Omar Noria, da Universidade Simón Bolívar. / LUIZ RAATZ, COM EFE