Título: A política dos socialistas não agrada aos franceses
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2012, Economia, p. B2

O novo governo socialista da França parece ter uma única preocupação: destruir o pouco de positivo que o predecessor de François Hollande, Nicolas Sarkozy, havia feito no seu mandato.

A indecisão do novo presidente se revela claramente na sua iniciativa de ceder à pressão da União Europeia para reduzir a 3% do PIB o déficit público em 2013. Todavia, pretende alcançar esse objetivo ambicioso não por um corte das despesas, mas apenas por meio de um forte aumento dos impostos sobre os ricos e a classe média, correndo, assim, o risco de um novo recuo da atividade econômica, que ele proclamava não aceitar.

A primeira medida do governo socialista foi fixar um imposto de 75% sobre os rendimentos maiores que 1 milhão por ano. A medida, puramente demagógica, afeta um número pequeno de contribuintes, com o efeito de estimular a mudança do endereço fiscal de muitos deles para um outro país onde a tributação seja menor, o que já se observa.

O problema mais agudo, parece-nos, é um imposto de 45% sobre rendas acima de 150 mil, que atinge parcela importante da população e cuja consequência será uma forte queda da demanda, num momento em que a atividade econômica já está sofrendo grave recessão. E não são apenas os impostos sobre a renda que sofrem pesado aumento: doações entre pessoas que não são da mesma família passam a pagar imposto de até 90%.

No entanto, os gastos do governo vão aumentar sensivelmente. Enquanto Sarkozy pensava em reduzir o número de professores, levando em conta a diminuição da população jovem, Hollande está criando 44 mil postos sem saber se será possível encontrar pessoas que aceitem uma função mal remunerada e que tenham os diplomas adequados. Nos serviços de saúde, o governo pretende, talvez mais justificadamente, novas contratações e a construção de novos centros de saúde.

O fato é que os 30 bilhões que o novo orçamento apresenta virão essencialmente de aumento dos impostos. Sarkozy havia previsto um aumento de impostos sobre o valor adicionado, que foi muito criticado pelos socialistas, prontos, agora, a impor esse aumento se as receitas não chegarem ao valor previsto.

Já se nota uma grave crise na indústria automobilística e na siderurgia, sem solução à vista. Tudo isso explica a queda contínua da popularidade de François Hollande, que havia suscitado grandes esperanças na França, mas que poderá sofrer muito nos próximos meses.