Título: Para analistas, BC não cortará a taxa de juros
Autor: Abarca, Denise ; Leonel, Flávio
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2012, Economia, p. B4
Pesquisa da "Agência Estado" mostra que de 40 instituições financeiras, 29 preveem manutenção da Selic em 7,5% na próxima reunião do Copom
A maioria dos economistas do mercado financeiro consultados pelos serviço AE Projeções, da "Agência Estado", diz que o Banco Central (BC) deverá interromper o ciclo de cortes na taxa de juros na reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom).
A pouco mais de uma semana para o encontro da diretoria do BC, levantamento parcial com 40 instituições apontou que 29 delas acreditam na manutenção da Selic no nível atual de 7,50% ao ano. Para as 11 casas restantes, a sequência de quedas iniciada pelo BC em agosto de 2011 terá mais um capítulo, só que desta vez a magnitude tende ser menor, em forma de uma diminuição de 0,25 ponto porcentual.
A parcial do AE Projeções realizada ontem traz um cenário mais definido que a pesquisa feita pelo mesmo serviço no dia 6 de setembro, no dia da divulgação da ata da reunião de agosto do Copom. Na ocasião, 32 instituições foram ouvidas, sendo que 16 previam manutenção da Selic na reunião do mês atual e outras 16 aguardavam corte de 0,25 ponto porcentual.
De acordo com os economistas ouvidos para a pesquisa de ontem, o BC já havia sinalizado a possível interrupção no ciclo de baixas no comunicado da decisão de agosto, na qual a Selic foi reduzida em 0,5 ponto porcentual para o nível atual de 7,5%.
O que gera opiniões diferentes é o cenário da economia nacional. A corrente dominante, que prevê a manutenção dos juros em 7,5%, aponta os sinais de reaquecimento da economia que estão ficando mais visíveis. Segundo os analistas, essas informações, somadas aos incentivos do governo federal e às recentes pressões inflacionárias geradas pelas commodities internacionais, são suficientes para o BC interromper os cortes nos juros.
Para a corrente que prevê um complemento de 0,25 ponto porcentual, há espaço para juros mais baixos. De acordo com esses economistas, o BC deixou no texto de seus documentos portas abertas para novo corte, sem riscos relevantes para o cumprimento das metas de inflação.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, diz que os dados da economia estão vindo melhores que o previsto, o que reforça a ideia de manutenção da taxa em 7,5%. "Os números estão mostrando uma recuperação mais forte no terceiro trimestre."
Segundo ele, a ata da reunião de agosto do Copom, conduzida por Alexandre Tombini, foi clara. "A condicional "se" usada no último texto abre caminho para o Copom parar de cortar o juro", afirmou, lembrando que o BC sinalizou que, se o cenário externo piorar e houver mudança de perspectiva do crescimento, poderá promover um corte com "máxima parcimônia".
Também com expectativa de manutenção da Selic , o economista Mauricio Nakahodo, do Banco Tokyo Mitsubishi UFJ Brasil, diz que os sinais de retomada da economia e o impacto do choque das commodities sobre os preços sugerem não haver necessidade de mais cortes na taxa. "E o tom da ata e do Relatório de Inflação é mais conservador."
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o Relatório de Inflação mantém aberta a perspectiva de um corte da Selic em 0,25 ponto porcentual, "considerando que a maior parte dos riscos é temporária, especialmente o de commodities". Mas Vale ressalvou que o BC tem sido "contraditório" em seus textos e "há espaço para que não corte nada"./ FLAVIO LEONEL, MARIA REGINA SILVA E DENISE ABARCA