Título: Dilma: Cenário econômico é turbulento
Autor: Assis, Francisco Carlos ; Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2012, Economia, p. B5

Para a presidente, países desenvolvidos não souberam dar resposta adequada à crise internacional, que afeta o crescimento do Brasil

A presidente Dilma Rousseff disse ontem que o País vive sob um cenário econômico turbulento e que os países desenvolvidos não foram capazes de dar uma resposta adequada à crise global. Segundo ela, a opção por políticas fiscais e ortodoxas dos países ricos gera desemprego. "Política monetária expansionista é fonte de desequilíbrio da taxa de câmbio e valoriza a moeda dos emergentes", afirmou Dilma, durante evento em São Paulo.

Dilma afirmou ser inegável que a crise mundial afeta o Brasil, mas não há sombra de dúvida "que nós saímos melhores que os outros", referindo-se à crise internacional. Para a presidente, a economia do Brasil continuará a crescer, mas sem dúvida a um ritmo menor do que o esperado. No entanto, de acordo com ela, o emprego se mantém em expansão e a taxa de desemprego é a menor dos últimos anos. "Os indicadores mostram a recuperação do crescimento e os resultados ocorrem por grande perseverança do governo."

A presidente afirmou que não se conforma com o desempenho menor da economia e, por isso, adotou medidas para a retomada econômica no curto, médio e longo prazos. "Implantamos as mudanças para que possamos ter um crescimento sólido e sermos cada vez menos permeáveis à crise. Não somos uma ilha."

Dilma participou na noite de ontem do evento "As Empresas Mais Admiradas no Brasil - 2012", organizado pela revista Carta Capital. Antes, esteve pela primeira vez em um comício do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, na zona leste de São Paulo.

O evento promovido pela revista teve a presença do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, além de ministros e empresários.

Contratos. A presidente disse que a redução "visível" das taxas de juros de longo prazo e as políticas de ampliação da liquidez e de expansão monetária, além da redução do custo do trabalho, nos países desenvolvidos, farão com que essas nações saiam da crise "bastante competitivas". Por isso, de acordo com ela, o Brasil deve fortalecer o seu ambiente macroeconômico.

Segundo Dilma, o País tem dado passos necessários para criar um ambiente tributário produtivo e com custo menor. Ela citou, como exemplo, a redução do custo da energia elétrica e ressaltou que o governo tem "adotado de forma obsessiva o respeito aos contratos", em referência à renovação das concessões do setor.

Dilma afirmou ainda que a relação entre as taxa de câmbio e juros no Brasil está mais bem equilibrada. "O câmbio está num patamar mais adequado e a taxa básica de juros no patamar mais baixo da história."

Em seu discurso, Dilma admitiu que o governo adota medidas que funcionam como mecanismos artificiais para desvalorizar o real em relação a outras moedas e melhorar a competitividade do produto nacional. "Ninguém vai acreditar que mexer no valor da moeda não seja um dos melhores mecanismos artificiais para melhorar a competitividade dos nossos produtos. Mas os exportadores sabem do que eu digo", disse a presidente.

"Não existe nada mais mortal para a competição do que taxa de câmbio entre QE1 e QE2", disse a presidente, referindo-se à primeira e à segunda rodadas de relaxamento monetário quantitativo do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), chamadas em inglês de QE1 e QE2. Dilma lembrou que naquele período o câmbio chegou a ser cotado próximo a R$ 1,50, prejudicando as exportações brasileiras.

Durante seu discurso, a presidente afirmou que, para construir o Brasil do futuro, são necessários investimentos vultosos em educação. Para ela, a educação é o elemento fundamental para que a nova classe média não volte atrás. Dilma voltou a cobrar das empresas públicas e privadas que entreguem ao consumidor um serviço de boa qualidade porque, segundo ela, a nova classe média exige isso.