Título: A dor me impede de falar, diz ministro sobre Dirceu
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2012, Nacional, p. A19

Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, evita comentar votos no Supremo pela condenação do ex-chefe da Casa Civil no governo Lula

Foi numa tentativa de se esqui­var de jornalistas que o minis­tro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, deu o tom do clima entre os petistas históricos em relação ao julgamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pelo Su­premo Tribunal Federal (STF). "A dor me impede de fa­lar, neste momento, dessa questão", disse Carvalho, que atuou no seleto grupo coorde­nado por Dirceu que traba­lhou para levar Lula ao poder.

A rápida conversa de Carvalho com jornalistas ocorreu na aber­tura de uma exposição, no segun­do andar do Planalto, de seis qua­dros do italiano Michelangelo Caravaggio (1571-1610), mestre das expressões fortes, que explo­rava o escuro em suas obras.

Nas últimas semanas, os petistas influentes do governo evita­ram dar declarações sobre o jul­gamento do mensalão. As razões são várias, observam interlocuto­res do Planalto. A razão política é que o drama do partido não po­de atravessar a Praça dos Três Poderes - de um lado fica o STF e do outro, o Planalto. A razão par­tidária é que o mensalão não de­ve pautar as campanhas munici­pais do partido, como a oposição tenta emplacar. Há ainda a "ra­zão" dos advogados dos réus, preocupados com frases de efei­to que podem soar com tom de intromissão de poderes.

Durante os oito anos de gover­no Lula, o ex-seminarista Gilber­to Carvalho, o "padre""do grupo de petistas históricos, sempre foi visto como a segunda voz do presidente, que sempre transmi­tiu com fidelidade pensamentos e frases do amigo. Mas, o jeito afável e cordial sempre represen­tou mais um contraponto num partido acostumado a líderes ex­plosivos e temperamentais.

Agora, no julgamento do "ex- homem forte" do PT e do gover­no Lula, o "padre" é quem me­lhor pode expressar o que a maio­ria sente, diz outra pessoa próxi­ma de Lula. As eternas e sempre lembradas divergências de grupos, a obsessão demonstrada no passado por Dirceu em suceder Lula no governo e as contradi­ções de um líder que ao deixar o palácio após duas crises políti­cas (caso Waldomiro Diniz e mensalão) virou um homem de boas relações e bons negócios perderam sentido, observa um assessor influente do governo.

Para esse assessor, o fato con­creto é a condição de réu de um quadro forte de um partido hoje sem brilho, seja no Congresso, seja na direção da legenda e na organização da militância.

O que perturba os petistas his­tóricos não é a situação do "ex- poderoso" chefe da Casa Civil, do "capitão da equipe de Lula", do homem que, em 1° de janeiro de 2003, fez questão de subir a rampa do Planalto logo atrás do presidente eleito e do vice eleito, José Alencar.

Assessores observam que José Dirceu está para ser condenado por ministros da Corte compos­ta, em sua maioria, por pessoas escolhidas por Lula e Dilma.

Nas conversas informais, pe­tistas históricos gostam de res­saltar que é o PT que está no ban­co dos réus. E não demonstram ódio nas críticas que fazem ao STF. O drama de José Dirceu ma­chuca os históricos, mas é tam­bém motivo de conversas, como afirma um deles, para esquecer um drama que ninguém disfarça que parece doer ainda mais - a condenação do companheiro José Genoino, ex-deputado e ex- presidente da legenda.