Título: A reação da produção em agosto não assegura o PIB
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2012, Economia, p. B2

A divulgação, anteontem, dos Indicadores Industriais de agosto, elaborados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com um crescimento dessazonalizado de 4,8% em relação ao mês anterior, foi certamente uma boa notícia. Porém essa boa notícia não permite concluir que o baixo crescimento, que marca o ano, ficou para trás nem que já é certo um crescimento satisfatório em 2013, como parece acreditar a equipe econômica.

Sempre com dados melhores do que os do Banco Central, o ministro da Fazenda fala num aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 4%, embora o setor industrial não seja o que mostra o maior valor acrescido na determinação da variação do PIB.

Os dados divulgados pela CNI, em termos dessazonalizados, mostram que o resultado de agosto foi obtido por um aumento de 0,7% das horas trabalhadas, uma redução de 0,3% do emprego e uma estagnação da Utilização da Capacidade Instalada (em 80,9%). A indústria brasileira produz mais com menos mão de obra, recorrendo à elevação das horas trabalhadas. Esse fato pode ser interpretado como melhoria da produtividade, mas também como resultado da prudência das empresas que reduzem a mão de obra diante da perspectiva de terem de reduzir seus gastos. O fato que nos parece importante é que a indústria não realizou novos investimentos, pois ainda tem capacidade de produção ociosa.

Ora, uma verdadeira reação da economia no próximo ano depende do aumento dos investimentos tanto no setor público quanto no privado. O governo anunciou, com grande publicidade, que pretendia dar prioridade aos investimentos na infraestrutura (rodovias, portos, estradas de ferro), o que deveria se traduzir por um grande ganho de competitividade das empresas privadas. No entanto, até agora nada foi realizado nesse sentido, nem mesmo um contrato-padrão para as concessões ou as parcerias do Estado com o setor privado. O ano de 2012 será o de menor Formação Bruta de Capital Fixo, pois, como já vimos, as empresas privadas não investem.

Quando se examinam os dados da CNI por setores, verifica-se que o maior crescimento em relação ao mês anterior é na área de edição e impressão (efeito das eleições) e na de máquinas, aparelhos elétricos e material eletrônico (que dependem de importações para montagem na Zona Franca de Manaus). O valor acrescido dessa produção é muito pequeno e seguramente não terá muito efeito sobre o PIB de 2013.