Título: Benefícios crescem mais que investimentos
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2012, Economia, p. B1

Levantamento mostra que o desembolso com seguro-desemprego e abonos cresce mais que os investimentos federais

Os governos do PT aceleraram mais os gastos com pagamento de abono e seguro-desemprego do que com os investimentos. É o que mostra levantamento feito pelo economista-chefe da corre-tora Convenção Tullet Prebon, Fernando Montero, um especialista em contas públicas. Em 2002, os investimentos foram equivalentes a 0,78% do Produto Interno Bruto (PIB). Este ano, eles estão em 1,1% do PIB, na soma dos 12 meses encerrados em agosto. Ou seja, houve um aumento de 0,32 ponto porcentual do PIB. No mesmo período, os gastos com abono e seguro-desemprego passaram de 0,49% do PIB para 0,87% do PIB, uma expansão de 0,38 ponto porcentual do PIB. “Investimos pouco, precisando investir tanto, e gastamos muito com abono e desemprego a despeito de estarmos em pleno emprego”, comentou o economista. Ele observa que há inúmeras razões para o aumento do número de beneficiados com o seguro-desemprego, sendo o crescimento da formalização uma delas. O elevado grau de rotatividade no emprego é outra razão. Mas, segundo observou, o próprio governo desconfia dos gastos elevados com o seguro-desemprego. Tanto que, no ano passado, anunciou que cortaria R$ 3 bilhões em gastos com esse programa, apenas combatendo fraudes. A realidade se mostrou mais complexa e, em vez do corte, houve um aumento de quase R$ 4 bilhões nesse item de despesa, que fechou aquele ano em R$ 34,2 bilhões. Montero disse que fez essa comparação mais por seu aspecto “anedótico”. Em meio a discussões dentro do governo sobre necessidade de se reduzir as metas de superávit primário (economia para pagamento da dívida pública) para alavancar mais os investimentos, o dado faz um contraponto.

Ele mostra que há despesas que crescem bastante, a despeito das metas rigorosas de resultado fiscal. Para Luigi Nese, que é vice-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), colegiado que administra o seguro-desemprego, é preocupante o fato de haver um descasamento entre o crescimento das despesas com benefícios e a arrecadação do FAT. “Mas o dado mais preocupante é o pagamento do abono”, disse. “Ele é atrelado ao salário mínimo e, como houve a política de valorização, as despesas cresceram bastante.” Ele aponta também o aumento da formalização como fator de crescimento dos pagamentos de seguro-desemprego. Controvérsia.Em seu levanta-mento, Montero não considerou, entre os investimentos, os gastos do Minha Casa, Minha Vida. “Isso não é dinheiro do governo, é das famílias que recebem subsídio do Estado”, disse. Os ministérios da área econômica tinham esse entendimento até o ano passado, e os gastos do Minha Casa eram contabilizados como custeio. Mas, em 2012, o Tesouro Nacional passou a classificá-los como investimento. Assim, do ponto de vista do governo, o quadro é diferente. Por esse critério, também calculado por Montero, os investimentos teriam tido uma expansão de 0,49 ponto porcentual do PIB. Maior, portanto, que o incremento de 0,38 ponto porcentual do PIB dos gastos com seguro-desemprego no período.