Título: Entidade critica uso eleitoral do kit gay contra Haddad
Autor: Boghossian, Bruno ; Chapola, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2012, Nacional, p. A8

O debate sobre o chamado "kit gay" na eleição paulistana cau­sou a reação da principal enti­dade que milita na causa ho­mossexual no País. O presiden­te da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, publicou an­teontem carta aberta ao candi­dato José Serra (PSDB) na qual repudia "o uso de políti­cas de combate à homofobia como arma eleitoral" e recha­ça que o material produzido no Ministério da Educação (MEC) - durante a gestão do candidato Fernando Háddad (PT) - tenha objetivo de "dou­trinar" a opção bissexual nas escolas, como disse Serra em entrevista ao Estado.

"Prezado José Serra, não man­che sua biografia. Não rife nos­sos direitos", escreveu Reis na carta. "Peço, para uma boa políti­ca comprometida com o respei­to a toda a população (...) que a população LGBT não seja utiliza­da para gerar polêmica em época eleitoral. Isto só serve para vali­dar, banalizar e incentivar a ho­mofobia e manter a esta popula­ção à margem da cidadania."

Apelidado de "kit gay" pelo de­putado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), um dos críticos da ini­ciativa, o material educativo so­bre diversidadè sexual teve a publicação e a distribuição vetadas pela presidente Dilma Rousseff em maio do ano passado. Após sofrer pressão, Dilma atendeu ao pedido de parlamentares da bancada religiosa no Congresso Nacional, que ameaçavam atra­palhar votações de interesse do governo federal. O conteúdo completo do kit Escola sem Homofobia ainda não foi revelado pe­lo MEC. Segundo Reis, a pasta informou em ofício que o mate­rial permanece no setor edito­rial aguardando aprovação.

Ao Estado, Reis afirmou que Serra foi preconceituoso e usou adjetivos pejorativos sobre o conteúdo do kit (malfeito, as­pectos ridículos e impróprios): "O Serra é uma das pessoas que mais fez pela comunidade LGBT, fez uma coordenadoria (na Prefeitura). Eu me choquei quando ele falou que alguém doutrina a pessoa. É um precon­ceito atroz."

O ativista reconheceu que hou­ve um erro (reprovado por Dilma e Serra) no vídeo Probabilidades, um dos cinco que compõem o kit. Reis relata que, no vídeo, um menino sugeriria que ser bissexual é vantajoso, porque teria o dobro de chances de conseguir companhia para sair.

Religião. O tema voltou à tona na campanha deste ano, em meio a alianças de Serra com pastores evangélicos (entre eles Si­las Malafaia), que rejeitaram apoiar Haddad por causa da criacão do "kit gay". O conteúdo foi encomendado pela gestão Haddad a um grupo de empresas e ONGs (Ecos, ABGLT, Pathfinder e Reprolatina), que usou ví­deos também recomendados pelo programa de combate à homofobia do Estado de São Paulo, feito quando Serra era governador.

Ontem, Serra negou que os conteúdos dos kits sejam seme­lhantes e disse que o do Estado era voltado ao "fortalecimento da família". "É mentira que é pa­recido", disse o tucano.

Questionado, Haddad afir­mou Serra mentiu sobre a exis­tência de um kit na secretaria es­tadual de Educação: "Assim co­mo ele mentiu sobre a minha conduta e a da presidenta Dilma frente ao episódio, ele mentiu por uma segunda vez".