Título: Russomanno anuncia neutralidade no 2º turno e sugere que eleitor vote nulo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2012, Nacional, p. A12

Sem conseguir mais espaço no governo federal, PRB, que integra a base de Dilma, decide não apoiar candidatura de Fernando Haddad

O PRB, partido do candidato derrotado Celso Russomanno, anunciou ontem que pretende ficar neutro no segundo turno da eleição em São Paulo. O PT, de Fernando Haddad, trabalhava por uma declaração de apoio. O PSDB, de José Serra, queria a neutralidade da legenda na disputa.

No anúncio, Russomanno sugeriu que o eleitor "fique neutro" e insinuou como saída o voto nulo ou em branco em protesto a ataques dos adversários no 1º turno. Falou ainda em "movimento pela ética nas campanhas".

A decisão do PRB ocorreu após encontros na noite de terça-feira entre líderes do PT e do PSDB. O presidente do partido, Marcos Pereira, teve reunião no Palácio dos Bandeirantes com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que trabalha na costura de alianças para Serra. O partido tem dois deputados na base governista na Assembleia.

Assim que deixou o palácio, Pereira esteve com o coordenador da campanha de Haddad, Antonio Donato, e o presidente do PT, Rui Falcão. Afirmou a eles que a legenda deveria optar pela neutralidade, apesar da pressão para se aliar a Haddad. O PRB controla o Ministério da Pesca, com Marcelo Crivella, que recebeu pedido da presidente Dilma Rousseff para que a sigla apoiasse Haddad. Cientes de que seria difícil o apoio oficial do PRB em São Paulo justamente pela relação no plano federal, os tucanos trabalhavam pela neutralidade de Russomanno nas conversas com a sigla.

O candidato derrotado afirmou a aliados que não queria vincular sua imagem ao PT nem ao PSDB. Avalia que é dono de um eleitorado híbrido, formado por simpatizantes de ambos os partidos, e se vê como uma terceira via, diante da polarização entre petistas e tucanos no cenário político. Em zonas tradicionalmente petistas da cidade, teve 27% dos votos e Haddad, 39%. Nas áreas antipetistas, chegou a 18% e Serra, a 42%.

Movimento. Russomanno, que teve 1,3 milhão de votos, criticou os ataques que recebeu no primeiro turno e sugeriu que seu eleitor vote em branco ou anule o voto no segundo turno: "Peço a meus eleitores, a aqueles que gostaram da nossa proposta, que fiquem neutros também. A gente não pode mais aceitar eleições como essa que a gente viu".

Russomanno pediu ao eleitor que faça um "protesto", "se houver baixaria no segundo turno". Questionado se defendia o voto nulo ou em branco, afirmou: "Aí cada um decide por si próprio".

Disse que lançará "movimento" por "decência" nas campanhas. "Nos últimos dez dias, fomos vítimas de todo tipo de ataques que vocês podem imaginar. Então, o eleitor precisa dar a resposta também", disse. "Não estamos falando pela Ficha Limpa, pela ética na política? A ética na política também está na eleição."

Russomanno manteve-se na liderança até as vésperas da eleição, quando começou a sofrer ataques do PT e do PSDB. Os petistas criticaram sua proposta de criar tarifa de ônibus proporcional ao trajeto usado e diziam que ele não tinha programa de governo nem experiência para administrar a cidade. Os tucanos divulgaram folhetos nos quais o comparavam ao ex-prefeito Celso Pitta e ao ex-presidente Fernando Collor. "O que tenho a ver com outras pessoas que foram colocadas ao meu lado? Olha, vota no Celso é o 'novo' isso, é o 'novo' aquilo", afirmou ontem.

O presidente do PRB negou que a decisão de não apoiar Haddad possa influenciar na relação com o governo federal e disse que a neutralidade não é uma retaliação ao PT paulistano. "Como diz o ditado, o que acontece em Vegas 'stays' (fica) em Vegas. O que acontece em São Paulo, 'stays' em São Paulo", declarou.

Questionado sobre a neutralidade, Antonio Donato afirmou: "Vejo com naturalidade. Eles querem ter um posicionamento mais neutro em razão da figura do Russomanno". Para o coordenador da campanha tucana, Edson Aparecido, a decisão de Russomanno "tem de ser respeitada". / JULIA DUAILIBI e FERNANDO GALLO