Título: Analistas do mercado preveem que juros não devem cair mais
Autor: Gerbelli, Luiz Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2012, Economia, p. B3

Mantido o cenário atual, especialistas da área financeira apostam que terminou o ciclo de queda da taxa Selic neste ano

A divisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) ao cortar a taxa básica de juros (Selic) para 7,25% ao ano deixou nos analistas do mercado financeiro a impressão de que o ciclo de reduções iniciado em agosto do ano passado terminou. A decisão foi tomada por um placar de 5 votos a 3.

Essa é a avaliação, por exemplo, do economista-chefe do Santander, Maurício Molan. "O corte de 0,25 ponto parece ter sido o último desse ciclo", afirmou. "Mas isso não significa que o BC não fará novas reduções."

O analista avalia que, se houver uma mudança razoável de cenário, o BC pode mudar de ideia. "Se não tivermos sinais mais robustos de retomada do crescimento, por exemplo, o BC pode cortar a Selic novamente."

Se o cenário se mantiver nas premissas atuais, Molan acredita que a Selic ficará em 7,25% ao ano por muito tempo, diferentemente de muitos de seus pares no mercado, que preveem um ajuste para cima do juro básico já em 2013. "Na nossa avaliação, há mais risco de o BC mexer na Selic para baixo do que para cima."

A análise de Molan toma por base o panorama da economia global, que ainda apresenta grande probabilidade de crescimento baixo. "Além disso, a retomada de atividade prevista para o Brasil não é de superaquecimento, que pudesse obrigar o BC a elevar a Selic", observou.

Para este ano, o departamento de economia do Santander projeta inflação oficial (IPCA) de 5,4%. Para 2013, de 6%. A meta no Brasil é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos para baixo ou para cima.

A opinião de Molan é partilhada pelo economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Camargo Rosa. Segundo ele, a diretoria do BC analisou que os juros atingiram um ponto adequado, dado o quadro de atividade econômica interna e o cenário complexo internacional.

"Deve parar (de cortar) e por um bom tempo", disse Rosa. "O placar dividido e o comunicado é um sinal de que talvez fique mesmo em 7,25%. Se mexer de novo, deveremos ver isso somente no segundo semestre do ano que vem", disse, sem arriscar para que lado a taxa voltaria a pender.

Para o sócio-gestor de renda fixa da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, o ciclo acabou. "Se não houver piora drástica (no cenário externo), não tem mais queda da Selic." Segundo o estrategista, no mercado de juros futuros as taxas longas podem ceder um pouco, diante do comunicado mais enfático quanto ao fim do ciclo de corte da Selic e também pela divisão de votos.

Também na avaliação do economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, sem uma mudança abrupta externa é difícil pensar em corte da Selic na próxima reunião do Copom. O trecho no comunicado que remete ao entendimento de que o ciclo de corte da Selic chegou ao fim é a observação de que "o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear".

No mercado de juros futuros, as taxas curtas devem permanecer estáveis, na percepção de Serrano. O contrato para janeiro de 2014, que reflete a expectativa quanto à condução da política monetária no ano de 2013, pode ceder um pouco, acrescentou.

O economista Miguel Daoud, da consultoria Global Financial Advisor, diz que a decisão não é algo "temerário", pois a inflação vai subir, mas não vai ultrapassar o teto da meta. "Não vejo um cenário hoje favorável a um crescimento de 4% em 2013. O BC sabe disso." / COLABORARAM NALU FERNANDES e EDUARDO CUCOLO