Título: Cresce aposta de corte de 0,25 ponto na Selic
Autor: Villaverde, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2012, Economia, p. B6

Segundo economistas ouvidos pelo "Estado", cenário de crescimento interno e a visão ainda pessimista sobre os desdobramento da crise europeia abrem espaço para uma nova queda

Cresceu a percepção entre alguns economistas de que o Banco Central (BC) deve reduzir a taxa básica de juros, Selic, em 0,25 ponto porcentual nesta semana, após reuniões separadas com três integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC entre segunda-feira e quinta-feira da semana passada, em Brasília e São Paulo.

O cenário de inflação e crescimento interno, e a visão ainda pessimista sobre os desdobramentos do estresse envolvendo o elevado endividamento dos países da União Europeia chancelaram, segundo esses economistas, as apostas de que Selic será reduzida a 7,25% ao ano após a reunião do Copom, que começa amanhã e termina na quarta-feira.

O BC busca atingir o menor patamar "sustentável" para a Selic, isto é, que seja capaz de atravessar o maior tempo possível sem precisar ser elevado. Com os dados mais recentes de atividade econômica e um cenário ainda turvo para as condições financeiras da União Europeia, o BC pode argumentar que uma taxa na casa de 7,25% ao ano, ou mesmo 7% ao ano, seja capaz de permanecer inalterada por longo período.

A maioria dos interlocutores do BC ouvidos pela reportagem alterou seus cenários para a Selic após os encontros - as apostas saíram da manutenção no patamar atual de 7,5% ao ano para um corte "com máxima parcimônia" da taxa nesta semana. A frase faz referência à ata da última reunião do Copom, há um mês e meio, que sinalizou ao mercado financeiro que os cortes adicionais da Selic, se efetivamente se realizassem, seriam feitos de forma menos ambiciosa que os cortes sucessivos feitos até agora.

Inflação. A minoria dos economistas que falaram ao Estado já estimavam uma redução de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros antes dos encontros com diretores do BC. Um destes, no entanto, ponderou que a expansão de 0,57% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, divulgada na sexta-feira pelo governo federal, pode sustentar ainda uma posição contrária à visão de que um novo corte na Selic virá.

Mas, antes mesmo da divulgação do IPCA, os diretores do BC já sinalizavam que a piora na inflação era inevitável, diante da situação ruim na lavoura americana e da expansão de liquidez forçada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

No mês passado, o Fed anunciou que compraria no mínimo US$ 40 bilhões por mês em títulos do Tesouro americano - o que, na prática, configura a emissão de dólares, que passam a ser despejados na economia. Tal qual ocorreu em 2010 e 2011, quando o Fed promoveu política semelhante, a injeção de moeda nova na economia deve elevar, na visão do BC, todos os preços dos ativos, sejam eles financeiros (como ações e títulos) ou reais (como preços dos alimentos, residências etc.).

Na semana passada, o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luis Awazu Pereira, afirmou em São Paulo que a economia global ainda atravessa "processo longo e penoso de desalavancagem", concluindo que o cenário externo é de "crescimento medíocre" nos países ricos por um longo período. Desde que o BC iniciou a política de relaxamento monetário, em 31 de agosto de 2011, a visão pessimista sobre a economia mundial tem sido apontada como fator decisivo para justificar cortes na Selic.