Título: Redução dos juros aquece bens de capital
Autor: Gazzoni, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2012, Economia, p. B8

Com "juro negativo", linha de financiamento do BNDES cresce 30% desde setembro

Depois de uma retração nas vendas no início do ano, a indústria de bens de capital sente agora um aquecimento. O fôlego veio da redução do juro da linha Finame, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para compra de máquinas e caminhões, que caiu de 5,5% para 2,5% ao ano em setembro. O número de pedidos de crédito no Finame subiu em média 30% após a redução da taxa.

O BNDES, que recebia entre 800 e 1 mil pedidos de empréstimos por dia, chegou a registrar 1,5 mil nos últimos dias, disse o chefe do departamento de financiamento de máquinas e equipamentos do banco, Paulo Sodré. "O aquecimento do setor de caminhões foi imediato. Mas também sentimos uma retomada significativa em máquinas."

A redução do juro do BNDES foi uma das medidas do governo de estímulo à economia. A taxa de 2,5% ao ano é, na prática, um "juro negativo", ou seja, abaixo da inflação projetada para os próximos 12 meses - de cerca de 5,5%. A medida foi anunciada no fim de agosto, mas só entrou em vigor após a publicação do decreto, em 20 de setembro. O benefício vale até o fim do ano.

Só na última semana de setembro, o Banco Mercedes-Benz recebeu 800 pedidos de crédito para a compra de caminhões, um número bem acima da média semanal, de 300. "Tivemos de trabalhar no fim de semana para conseguir atender os clientes", disse o diretor comercial do banco, Angel Martinez.

A demanda por crédito ocorre após uma queda de 23,2% nas vendas de caminhões entre janeiro e setembro, segundo a Anfavea. Muitas montadoras e fornecedores não estavam preparadas para um rápido aquecimento e correm para recompor o estoque. "A retomada pode levar dois ou três meses", disse o diretor comercial da Iveco, Alcides Cavalcanti. Alguns modelos da montadora, como o Stralis, já estão com estoques esgotados e têm fila de entrega até janeiro.

Máquinas. A fabricante de equipamentos Weg enviou cartas aos clientes sugerindo que aproveitassem o "juro negativo" para renovar o parque industrial, e criou um site para explicar como obter o crédito do BNDES. "Clientes que já tinham projetos de compra de equipamentos estão acelerando o negócio para pegar o juro menor do BNDES", diz o diretor de marketing da Weg, Antonio Cesar da Silva.

A empresa tenta convencer os clientes de que o juro baixo é oportunidade de renovação do parque. O desafio é fechar o negócio até o fim do ano. "O prazo é curto. Muitas indústrias não vão conseguir aproveitar."

A fabricante Dedini também está correndo contra o tempo. A empresa sentiu um aumento nas consultas entre 10% e 15% após a medida do BNDES. A maioria dos interessados são clientes que estavam com projetos na gaveta, disse o presidente da Dedini, Sérgio Leme. Segundo ele, a medida não surtirá o efeito de incentivar investimentos novos. Um projeto de um parque industrial leva entre seis meses e um ano entre a decisão de compra e a entrega dos equipamentos, diz Leme. "Ninguém tem uma planta de biodiesel na prateleira."

"Para projetos novos grandes, realmente não dá tempo. A medida veio para dar uma mexida no setor, porque muitos investimento estavam parados. Mas ela é momentânea", afirmou Sodré.