Título: Agora sob pressão, Obama tenta evitar novo fiasco no segundo dos 3 debates
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2012, Internacional, p. A14

Agora sob pressão, Obama tenta evitar novo fiasco no segundo dos 3 debates

Ciente do impacto negativo do último debate na sua lide­rança nas pesquisas, o presi­dente dos EUA e candidato à reeleição, Barack Obama, de­baterá depois de amanhã com o republicano Mitt Romney sem alternativa senão a de ven­cer a discussão. O desafio será na Hofstra University, em Hempstead, no Estado de No­va York.

Obama fez mea-culpa por seu desempenho pífio no primeiro debate, em Denver, e pagou o preço de seu aexcesso de poli­dez" ao ver-se ultrapassado por Romney nas pesquisas nacio­nais. Numa campanha disputa­da ponto a ponto, como esta, o debate tornou-se um evento-chave para a eleição do dia 6.

Um único ponto porcentual pode definir o vencedor de um jogo que, tecnicamente, está em­patado. Amédia das pesquisas na­cionais calculada pelo Real Clear Politics, antes favorável à reelei­ção do presidente, agora mostra Romney nafrente, com 47,3%, se­guido por Obama, com 46,3%. Os indecisos e desinteressados so­mam 6,4%. No Colégio Eleitoral, instância final do processo, Oba­ma perdeu 68 votos em duas se­manas e está com 201. Romney tem 181. O vencedor precisa, no mínimo, de 270 delegados.

"A pressão está sobre Oba­ma", resumiu Gene Beaupre, di­retor do Depaitamento de Rela­ções Governamentais da Xavier University, de Cincinnati. "Ele terá de pegar forte com Romney nas questões preocupantes para o eleitor e contornar a ausência de liderança demonstrada no úl­timo debate. Romney, porém, de­verá chegar ao debate preparado para isso."

Desta vez, Obama decidiu re­servar mais tempo para seu pre­paro. Ontem, desembarcou em Williamsburg, em Virgínia, para três dias de ensaios para o segun­do da série de três debates. É jus­to dizer que teremos um pouco mais de ação. Vou apresentar as diferenças de forma cristalina", afirmou o presidente em um pro­grama de rádio, na sexta-feira.

A injeção de ânimo no eleitora­do democrata surgiu como deba­te do vice-presidente dos EUA e companheiro de chapa de Obama, Joe Biden, com seu desafian­te republicano, Paul Ryan, na quinta-feira, em Danville, no Es­tado de Kentucky. A performan­ce de Biden foi o que se esperava de Obama no seu debate com Romney. Seus ataques atingi­ram pontos nevrálgicos da pro­posta adversária, como a conde­nação de Romney à ajuda finan­ceira do governo à General Mo­tors e à Ford, no auge da crise, e às medidas para aliviar a dívida imobiliária.

Biden atacou ainda o comentá­rio do republicano de que 47% dos eleitores de Obama são dependentes do governo e chamou seu plano de ajuste fiscal e gera­ção de empregos de seus oposito­res de "um monte de asneiras".

O vice-presidente foi agressivo, como se esperava que Obama agisse, na semana anterior. Mas deixou ainda ao presidente ou­tros fronts a serem explorados. Entre eles, o passado de Romney como dirigente da Bain Capital, companhia dedicada à compra de empresas em dificuldades pa­ra reestruturação ou liquidação.

A dificuldade, para Obama, es­tá no fato de Romney preparar-se bem para os debates e ter da­do uma guinada da direita radi­cal para o centro, como ficou evi­dente no dia 3. Segundo Richard Harknett, diretor do Departa­mento de Ciência Política da Universidade de Cincinnati, o re­publicano pode mudar a narrati­va sobre si mesmo no debate de terça-feira e garantir sua vitória. O cientista político Mack Mariani, da Xavier University, acres­centou o fato de Romneyjá ter se mostrado como uma "alternati­va possível e aceitável" para o eleitor.

Ao contrário do que se passou em Denver, em Hempstead o foco estará em questões de políti­ca externa, e o formato permiti­rá perguntas da platéia, sempre mais imprevisíveis do que a de jornalistas mediadores. O segun­do debate também acorre em um momento em que a votação já começou em vários Estados - o chamado voto adiantado, que pode ser enviado por correio. Es­sa situação, segundo Beaupre, torna a parcela de indecisos e desinteressados ainda mais impor­tante.

Obama e Romney falarão, es­pecialmente, a pessoas como Mike Johnstone, de 45 anos, instalador de ar-condicionado de Cin­cinnati. De família operária, Johnstone se diz eleitor indepen­dente inclinado escolher os de­mocratas. Mas afirmou não estar interessado em votar nessa elei­ção. "Obama nada fez para me­lhorar a economia e Romney me assusta por ser a favor dos mais ricos. Eu votaria se Hillary (Clinton, secretária de Estado) fosse candidata", afirmou, enquanto tomava cerveja no Andy"s Café na tarde de quinta-feira.