Título: Já fui julgado pelas urnas, afirma Lula
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2012, Nacional, p. A6
Ao comentar o mensalão para o "La Nación", na Argentina, ex-presidente diz que vitória de Dilma foi "um julgamento extraordinário"
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita a Buenos Aires, afirmou que já passou por um virtual julgamento sobre o mensalão com a eleição de sua candidata, a presidente Dilma Rousseff, em 2010. "Eu já fui julgado. A eleição de Dilma foi um julgamento extraordinário."
A declaração foi dada ao jornai argentino La Nación, em entrevista publicada ontem. Questionado se tem alguma crítica ao julgamento do processo pelo Supremo Tribunal Federal, Lula demonstrou tranqüilidade: "Não me preocupo (com o julgamento), absolutamente".
O ex-presidente equiparou o resultado de seus aliados nas urnas e o desempenho de sua própria figura nas pesquisas de opinião pública com um tribunal de Justiça. "Para um presidente que teve oito anos de mandato, o fato de terminar com 87% de aprovação popular é um enorme julgamento", disse, referindo-se à pesquisa de opinião divulgada em dezembro de 2010, dias antes de ele deixar o governo.
Na entrevista, que havia sido solicitadahá meses pelo jornal, o ex-presidente Lula rejeitou fazer comentários adicionais sobre o caso do mensalão: "Um ex- presidente não pode estar dando palpite sobre o que a Corte está fazendo. Vamos esperar que o processo termine".
Alternância. Num momento em que o governo de Cristina Kirchner trabalha para obter maioria absoluta no Congresso com o objetivo de retormar a Constituição e garantir a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato consecutivo e em meio à uma onda de reeleições presidenciais na América Latina, Lula também sustentou que "a democracia é um exercício de alternância do poder, não somente de pessoas, mas de setores da sociedade".
Lula relatou que, quando era presidente da República "e contava com 87% de aprovação", proibiu que o PT apresentasse qualquer espécie de emenda constitucional para permitir sua segunda reeleição.
O ex-presidente também referiu-se ao presidente da Venezuela Hugo Chávez, recentemente reeleito, a quem chama carinhosamente de "companheiro". "A Venezuela teve uma eleição, na qual duas pessoas foram candidatas. E eu achava que Chávez seria melhor para a Venezuela."
No entanto, o ex-presidente brasileiro sustentou que o colega venezuelano deveria pensar na alternância do poder: "Acho que o companheiro Chávez deveria começar a preparar sua sucessão". Chávez, que governa a Venezuela desde 1999, ficará no poder até 2019.
Lula afirmou que a Venezuela "melhorou muito" durante o governo Chávez. "O povo pobre ganhou dignidade. A América do Sul ganhou muito com Chávez. A Venezuela começou a olhar para a América Latina, e por isso defendi a entrada desse país no Mercosul", disse.
Futuro. Lula também referiu-se a seu próprio futuro político, negando que pense em voltar a ser presidente em 2015: "Isso não se discute no Brasil, já que é um direito da presidente (Dilma Rousseff) a ser candidata à reeleição".
No entanto, na entrevista ao La Nación Lula também admitiu que poderia ser candidato em outra eleição presidencial (em 2018 ele terá 73 anos). "Um político nunca pode descartá-lo. O problema é cada vez que me fazem essa pergunta. Se eu digo que não o descarto, a imprensa afirma "Lula admite que será candidato". Se eú digo o contrário, dizem "Lula nunca mais será presidente"."