Título: Atlas rural mostra os dois Brasis na produção agrícola
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2012, Economia, p. B18

O consumo intensivo de capital intelectual, por meio de uma série de técnicas e inovações, tem marcado o atual processo de produção nas áreas rurais do País, segundo o Atlas do Espaço Rural Brasileiro, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As máquinas e os insumos agrícolas marcaram a modernização da agricultura, mas o destaque hoje tem sido o uso de irrigação, sementes certificada e transgênica, acesso a assistência técnica, aplicação de plantio direto e produção de eucalipto, entre outros avanços.

Na pecuária bovina, destacam-se os municípios que apresentam estabelecimentos com transferência de embriões, rastreamento, uso de rações indústrias, confinamento e inseminação, segundo o levantamento, que combina dados do Censo Agropecuário 2006 com outras pesquisas do instituto conduzidas até 2009.

O objetivo foi retratar da forma mais fiel possível a realidade territorial do campo brasileiro.

"É a primeira vez que conseguimos enxergar a singularidade de cada propriedade. Nós sempre vimos os Estados Unidos publicarem o atlas rural e queríamos fazê-lo também", contou Adma Figueiredo, gerente da Coordenação de Geografia do IBGE.

Modernidade e atraso. A pesquisa aponta que o País tem 5,2 milhões de estabelecimentos agropecuários e 3,9 milhões de proprietários rurais, com o destaque que 82% eram analfabetos ou não tinham completado o ensino fundamental. As mulheres, que respondiam por cerca de 13% dos estabelecimentos agropecuários, tinham a maior taxa de analfabetismo, de 45,7%, ante 38,1% dos homens.

"O Brasil tem no campo o que há de mais moderno. Somos extremamente competitivos no mundo em cultivos como a soja e a carne. E isso tudo aparece convivendo com as mazelas do passado, os passivos antigos. São dois Brasis que coexistem no mundo rural", avaliou Adma.

As maiores taxas de analfabetismo, tanto para os proprietários quanto para os ocupantes, se concentravam nos municípios das Regiões Norte e Nordeste do País.

A maior fatia de produtores proprietários com nível médio de instrução (regular e profissionalizante) ficava nas áreas de maior dinamismo da produção, com destaque para o Centro-Sul, especialmente onde há domínio da cultura de soja e outras commodities de exportação.

O IBGE verificou uma correlação entre o aprimoramento técnico da agricultura e o nível de instrução do produtor rural.

Rodovias. O atlas mostrou ainda que o transporte da produção agropecuária ainda é concentrado no modal rodoviário, que detém uma fatia de 70% das cargas no País, em comparação com 26% nos Estados Unidos e 8% na China.

O IBGE ressalta que o Brasil tem mais de 29 mil quilômetros de rios navegáveis, mas apenas 5% da safra de grãos são transportados pelas hidrovias. Outros 67% dos grãos seguem por estradas. Quanto aos portos, o instituto aponta dois problemas "cruciais" para o produtor, que são o acesso aos terminais e o alto custo das operações.

"Foi uma escolha do Brasil, de políticas adotadas dos anos 50 para cá, com apoio ao setor automobilístico e rodoviário. Abandonou-se totalmente os setores ferroviário e hidroviário, o que agora estão tentando resgatar um pouco", analisou a gerente do IBGE.

A pesquisa expõe também que o bioma que mais sofre pressão da agropecuária, entre os seis presentes em território nacional, é o Pampa, que tem 71% de sua extensão ocupada com estabelecimentos agropecuários. Em seguida, aparecem os biomas Pantanal (com 69% da área ocupada), Mata Atlântica (66%) e Cerrado (59%).

Segundo o IBGE, apenas 20% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros tinham matas destinadas a Áreas de Preservação Permanente ou Reserva Legal.

Outros 40% dos estabelecimentos agropecuários não usam nenhuma das principais práticas agrícolas capazes de prevenir e controlar a erosão do solo, como o plantio em nível, o uso de terraços, a proteção de encostas, o plantio direto na palha, o pousio (interrupção de cultivo para permitir o descanso da terra) e a rotação de culturas.