Título: Reduto adversário move campanhas de Haddad e Serra no final da disputa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2012, Nacional, p. A4

Na última semana da campa­nha pela Prefeitura de São Pau­lo, o candidato do PT, Fernan­do Haddad, intensificará ações com a classe média, enquanto José Serra (PSDB) tentará se aproximar do eleitor mens es­colarizado e de mais baixa ren­da, concentrado na periferia.

Os candidatos também cali­brarão os ataques na reta final. A coordenação da campanha do PT decidiu retirar da grade co­merciais mais críticos ao tucano. O objetivo é aumentar as inser­ções com propostas afim de neu­tralizar o discurso do PSDB, se­gundo o qual Haddad não teria ideias para a cidade. Os tucanos pretendem tratar com mais mo­deração a exploração do mensalão, que sustenta o debate sobre ética, um dos carros chefes da campanha. Temem que o contra-ataque prometido pelos petistas - citando casos como o mensalão mineiro e o escândalo de cor­rupção envolvendo ex-diretor de licenciamentos da Prefeitura de Gilberto Kassab (PSD), alia­do de Serra - provoque batalha ética que leve a descrédito da classe política. Em cenário de re­dução da mobilização do eleitor, as abstenções e votos nulos cres­cem, o que beneficiaria o petista.

Serra perdeu cinco pontos na última semana, e integrantes da campanha creditam a queda ao tom mais agressivo no rádio e na TV e a abordagem do "kit gay" feita por Silas Malafaia, líder evangélico que apoia o tucano.

Serra cumprirá agenda em bairros dos extremos leste e sul, onde serão promovidas cami­nhadas e bandeiraços. Haddad li­dera as pesquisas com folga nas franjas da cidade. Na ponta da zona leste, o petista vence por 61% a 17%, e no extremo sul, por 55% a 26%, segundo o Datafolha.

O candidato do PT terá agen­da voltada para a classe média, na qual constam encontros com esportistas, advogados e artis­tas. Na zona oeste, onde está o eleitor mais rico da cidade, Serra lidera com 48% das intenções de voto contra 37% do petista.

Na segunda-feira, o vice-presi­dente Michel Temer e o candida­to derrotado do PMDB, Gabriel Ghalita, promovem ato pró-Haddad no Clube Espéria. Antes, ha­verá uma reunião com esportis­tas, com a participação do minis­tro Aldo Rebelo (Esporte).

Mais encontros. Na terça, o PT organiza um ato temático sobre saúde, com o ministro Alexandre Padilha. A campanha também fa­rá encontro na quinta com apoiadores da área da cultura e educa­ção, do qual participam o neurocientista Miguel Nicolelis e o filó­sofo Mario Sergio Cortella. Na quarta, Haddad recebe o apoio de personalidades da área jurídica.

O PT também realiza ato com pastores, com a entrega de mani­festo pró-Haddad, que falará que o candidato respeita a diver­sidade religiosa, defende o Estado laico e não instrumentaliza a religião para fins eleitorais, ape­sar de o evento ser de campanha.

Serra, por sua vez, insistirá na reação ao discurso do PT de que Haddad seria o candidato dos po­bres. O tucano empunhará a ban­deira de um governo "para to­dos", contra a suposta divisão da cidade entre ricos e pobres. Na TV, a campanha mostrará obras e serviços que beneficiaram a po­pulação mais pobre na atual ges­tão, defendida pelo tucano.

O objetivo da equipe do PSDB é conquistar dois segmentos do eleitorado até o próximo domin­go: um grupo que rejeita o PT, independentemente de seu can­didato, e outro que votaria em Serra por seu currículo.

As mensagens críticas aborda­rão a "capacidade administrati­va". A campanha falará que ele não tem gabarito para comandar a cidade. Com ironia, dirá que o petista, vendido como o "novo", teria capacidade administrativa comparável a de um estagiário. Os tucanos também pretendem exibir novo depoimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para consolidar e am­pliar o voto do eleitor simpático ao "modo tucano de governar".