Título: Investimento cai de novo no terceiro trimestre
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2012, Economia, p. B2

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), ou taxa de investimento, caiu durante quatro trimestres consecutivos, entre julho de 2011 e junho de 2012, e voltou a diminuir no trimestre passado, em cerca de 0,5%, estima a economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV. A recuperação da atividade é muito lenta e não parece, portanto, suficiente para que as empresas tomem decisões firmes de ampliar os investimentos. Isso depende do grau de confiança no futuro da economia.

A disposição de investir, por enquanto, está circunscrita a alguns ramos de atividade - em geral, os beneficiados por incentivos localizados -, como bens duráveis e, em especial, a indústria automobilística. A retomada de investimentos só estará caracterizada quando outros ramos derem sinais de melhora. Para o trimestre outubro/dezembro, a FGV espera alta de 0,7% da taxa de investimento.

Em 2012, pelos cálculos do Ibre, a formação de capital fixo recuará 2,3% em relação ao ano passado. "O cenário doméstico é de melhora, mas não temos visto um vigor tão forte na economia como um todo", declarou Silvia Matos ao jornal Valor. O ambiente externo ainda é muito desfavorável e é um fator que poderá atrasar a retomada do investimento.

A taxa de investimento no Brasil foi calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em apenas 17,9%, no segundo trimestre, inferior à de 18,8%, no mesmo período do ano passado. Entre 2002 e 2009, a taxa de investimento oscilou entre 15,3% do PIB e 19,1% do PIB, em função das flutuações da atividade econômica. Para que o Brasil possa crescer, de maneira sustentada, a 5% ao ano, seria necessária uma taxa de investimento da ordem de 25% do PIB, nos cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas essa taxa é vista como insustentável na fase atual, pois o nível de poupança doméstica é baixo e os estímulos ao consumo não induzem ao seu aumento.

O governo tem procurado criar condições propícias ao aumento dos investimentos, por exemplo, com a redução das taxas de juros. Mas, mesmo no caso dos juros módicos dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - o juro básico do banco é a TJLP, de 5,5% ao ano, e algumas operações têm custo inferior à TJLP, ou seja, negativo -, não houve uma forte demanda de empréstimos para investimento, salvo em linhas específicas. O aumento do investimento, em especial, privado, depende de desoneração fiscal mais generalizada, melhora substancial da infraestrutura e cenário favorável aos negócios, aqui e no exterior. Além da demanda de consumo, depende de confiança.