Título: Governo liga térmicas para garantir energia
Autor: Pereira, Renée ; Torres, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2012, Economia, p. B7

Seca baixa o nível dos reservatórios das hidrelétricas e leva o governo a acionar todas as usinas térmicas, o que deve provocar alta na conta de luz

A partir de amanhã, todas as termoelétricas disponíveis no sistema elétrico brasileiro entrarão em operação ao mesmo tempo para tentar recuperar o volume de água dos reservatórios. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em algumas regiões, as represas estão com o pior nível de armazenamento dos últimos 11 anos.

É o caso das usinas da região Sudeste/Centro-Oeste, cujos reservatórios estão em 47,89% da capacidade. No fim de 2000, antes do anúncio do racionamento de 2001, o nível era de 30,75%. Para especialistas, ainda é cedo para avaliar os reais riscos do sistema elétrico, mas a sinalização não é boa. A expectativa do ONS é que as chuvas de novembro e dezembro consigam elevar o volume de água nos reservatórios de forma mais consistente.

"Na região Sul (cujo nível está em 44,78%), já está começando a chover", argumentou o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp. As termoelétricas apenas vão parar de operar se o nível dos reservatórios subirem acima da meta de segurança. Isso significa aumento na conta de luz do brasileiro.

As usinas que começarão a gerar energia a partir de amanhã são movidas a óleo combustível e diesel, caras e poluentes - algumas unidades já começaram a operar na semana passada. O preço do megawatt hora (MWh) gerado por essas unidades varia entre R$ 310,41 e R$ 1.047,38, segundo relatório do ONS. As térmicas a gás, que já estão em operação, tem custo entre R$ 6,27 e R$ 401,67; e as movidas a carvão, entre R$ 56,34 e R$ 341,89. Juntas, as centrais elétricas vão produzir cerca de 11 mil megawatts médios (MWmédios).

"As térmicas vão ajudar a recompor os reservatórios. A situação só vai se complicar se nos próximos dois meses não chover o suficiente", explica o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde Castro. Em 2007 e 2008, o País também sofreu um stress no armazenamento de água. Na ocasião, além de várias térmicas não poderem gerar por falta de combustível, as chuvas só começaram em fevereiro.

"Se já estamos com crise de armazenamento agora, imagina quando as usinas a fio d"água, sem reservatório, entrarem em operação. Aí sim teremos problemas", avalia o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Na opinião dele, fizeram tanta pressão contra a construção de reservatórios que o País vai precisar cada vez mais de usinas a óleo, mais poluentes. "É hora de começar a pensar em elevar a base de térmicas a gás para dar segurança ao sistema."