Título: Centro quer exportar técnica para o SUS
Autor: Lenharo, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2012, Vida, p. A15
Tratamento experimental, testado em 90 pacientes do Hospital Anchieta, tem custo mais baixo que o convencional e mostrou resultado eficaz
O Estado de S.Paulo
Para começar a aplicar a técnica de fototerapia em pacientes com pé diabético, o pesquisador João Paulo Tardivo submeteu à Faculdade de Medicina do ABC um projeto de criação do Centro de Tratamento do Pé Diabético no Hospital Anchieta. A proposta foi aceita pela faculdade.
Tardivo já havia publicado um artigo na revista Photomedicine and Laser Surgery em 2009 sobre a experiência da utilização da fototerapia em pés diabéticos de dois pacientes. Com o resultado positivo observado nos 90 pacientes já atendidos no centro, o objetivo é propor a exportação do método para o SUS.
A enfermeira Maria Madalena Miranda de Oliveira, coordenadora de cuidado ao paciente adulto do Hospital Anchieta, conta que Tardivo foi convidado a fazer uma apresentação sobre a técnica para os profissionais da unidade. "Começamos a observar que tinha uma alternativa para pacientes com osteomielite (quando a infecção atinge o osso)."
Tardivo destaca a vantagem financeira da fototerapia em relação ao tratamento convencional. "É mais barato cuidar com esse método do que com cirurgia. Dessa forma, preserva-se a qualidade de vida e diminuem os custos."
Depois da instalação do centro, que ocupa uma sala do ambulatório, as enfermeiras começaram a se capacitar para aplicar a técnica. Hoje, pacientes com outras condições, como ferimento ortopédico ou úlcera por pressão, também começam a ser tratados com o princípio da fototerapia. "Quando o paciente diabético chega, muitas vezes já tem indicação para ser amputado porque já se investiram vários recursos. Veja a importância de se oferecer uma alternativa", ressalta.
Ferida no pé. Sandra Aparecida Martins, de 48 anos, teve sua diabete diagnosticada pelo pé. Quando foi ao médico tratar uma ferida no dedo do pé, que tinha evoluído de uma simples bolha, ele desconfiou que a paciente poderia ser diabética, o que foi confirmado pelo exame de glicemia.
Pela gravidade da ferida, Sandra foi imediatamente internada e a avaliação dos clínicos foi que seria necessário amputar o dedo afetado. "Comentei que era impossível, com a medicina tão avançada, não ter uma alternativa", diz. Quando contaram a ela sobre a possibilidade de um tratamento experimental com fototerapia, ela viu uma nova esperança. "Depois de quatro meses de tratamento, meu dedo estava perfeito", conta.
Ela acrescenta que é um tratamento demorado e exige disciplina, já que as sessões são feitas duas vezes por semana. "Todo o sacrifício vale a pena para evitara amputação", diz. Agora, Sandra está de volta ao Centro porque machucou outro dedo ao esbarrá-lo no sofá. As sessões de fototerapia têm ajudado a prevenir nova ferida.
No caso da dona de casa Amélia Aparecida Fernandes, de 52 anos, o problema começou a se manifestar depois de uma bolha provocada por um sapato apertado. Em uma visita ao hospital, pegou uma infecção hospitalar que se instalou na ferida. "De uma semana para outra, meu pé ficou podre. Era uma bactéria muito resistente e eu tomei muito antibiótico, mas não adiantou", diz. Ela precisou amputar um dedo inteiro e parte de outro. Agora, faz tratamento com fototerapia e conta já perceber uma melhora no estado das feridas.
Prevenção. A enfermeira Roseli Rezende, membro da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), alerta que as complicações do pé diabético ocorrem principalmente quando o paciente passa longos períodos com níveis altos de glicemia.
Para evitar o problema, ela cita que é preciso adotar cuidados especiais com a higiene dos pés, criar uma rotina diária de observação dos membros inferiores, evitar a perfuração de bolhas, hidratar as regiões ressecadas e ter cuidado ao cortar as unhas. O uso de sapatos confortáveis também é essencial.