Título: Comércio cria o crediário 'plano de safra'
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2012, Economia, p. B18

Lojas fecham a venda e entregam mercadorias hoje para receber em março quando produtor recebe receita da safra

No rastro dos bons resultados da soja, lojas de eletrônicos, de materiais de construção e empresas especializadas em móveis planejados criaram uma nova forma de financiamento, batizada de "plano safra". Elas fecham a venda e entregam as mercadorias hoje e só recebem o dinheiro no dia 20 de março, quando o produtor recebe o grosso da receita da safra de soja.

Sobre a venda desses itens atrelada à receita futura da soja incide uma taxa de juros de 3% ao mês, conta José Roberto Corcine, gerente da loja Gazin em Sorriso (MT), maior município produtor de soja do País. A cidade responde por 3% da safra nacional de soja.

A rede Gazin, com 170 unidades espalhadas entre Paraná e os Estados das Regiões Centro-Oeste e Norte, é especializada em eletrônicos e eletrodomésticos. O gerente da loja de Sorriso explica que, para usar essa forma de financiamento, o cliente precisa estar ligado à agricultura. Isto é, ser produtor rural ou comprovar que trabalha na atividade. Nesse caso, o patrão acaba sendo o avalista da compra, explica.

Corcine diz que, desde o fim de abril, as vendas da sua loja deram um salto, impulsionadas pelos bons preços da soja. "Entre março e outubro, o faturamento cresceu, em média, 24% na comparação com os mesmos meses de 2011. Em agosto, aumentou 45%", exemplifica. Já em janeiro e fevereiro, as taxas foram mais modestas, com altas anuais entre 10% e 12%.

"Sem sombra de dúvida, a soja tem impacto no comércio local", diz ele. Corcine conta que no município de Sorriso há 1.135 fazendas e 99% desses fazendeiros têm casa na cidade. Compram, portanto, móveis e eletrodomésticos.

Entre os itens mais vendidos nos últimos tempos na loja da cidade estão os modelos mais sofisticados de TVs LCD (tela de cristal líquido, na sigla em inglês), geladeiras side by side e cama box. "O tíquete médio da nossa loja hoje é de R$ 780, 70% maior que a média da rede (R$ 450)", conta Corcine.

A loja de Sorriso é a primeira da rede em vendas entre as cidades entre 50 mil e 100 mil habitantes. Na rede inteira, ela está entre a terceira e a quarta posição.

Máquinas. Capitalizados e beneficiados por taxas de juros menores, os produtores de soja de Sorriso estão também aproveitando para renovar as máquinas agrícolas. Na Agrobaggio, revenda de máquinas agrícolas da marca John Deere em Sorriso, as vendas de tratores, colhedeiras e outros equipamentos aumentaram neste ano 10% em número de unidades em relação a 2011.

Alencar Lanzana, gerente da loja de Sorriso, explica que, além dos preços favoráveis da soja, a taxa de juros de 2,5% ao ano cobrados nas linhas de crédito para máquinas agrícolas oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contribuiu para esse movimento. "O juro está barato", diz ele, lembrando que, no ano passado, a taxa era de 5,5% ao ano.

A maior demanda por máquinas fez com que a compra de alguns modelos esteja sujeita a lista de espera. E a revenda, que já tem seis lojas na região centro-norte do Mato Grosso, planeja a inauguração da sétima unidade no município de Alta Floresta, no ano que vem. /M.C.