Título: Decepção com balanço e pior produção desde abril de 2008 derrubam ações da Petrobrás
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2012, Economia, p. B1

A fraca produção da Petrobrás em setembro, a pior desde abril de 2008, foi a grande decepção do balanço do terceiro trimestre da companhia, detalhado ontem pela diretoria da estatal. Produção em baixa, custos em alta e importações crescentes fizeram o mercado castigar as ações ordinárias com uma queda de 3,45% na BM&FBovespa.

"Não há muito o que dizer: levará tempo para que a Petrobrás dê uma reviravolta e investidores pagarão caro por isso", disseram em relatório os analistas Emerson Leite e André Sobreira, do Credit Suisse. Segundo eles, as duas únicas informações positivas no trimestre - a alta de preços nos combustíveis e a taxa de utilização de 98% no refino - não foram suficientes para um crescimento significativo do lucro. O saldo de R$ 5,5 bilhões divulgado na sexta-feira reverteu prejuízo de trimestre anterior, mas ficou abaixo dos R$ 8 bilhões projetados pelo mercado.

A Petrobrás produziu apenas 1,843 milhão de barris por dia em setembro. A piora se deveu a paradas mais longas do que o esperado para manutenção de plataformas. O diretor de Exploração e Produção, José Miranda Formigli, garantiu que os próximos meses terão resultados melhores.

A estatal já admite, contudo, não atingir a meta de produção neste ano, mesmo após o corte feito há quatro meses. "A produção deve ser de 2,022 milhões de barris por dia em média, mais ou menos 2%. Estamos trabalhando pesado para conseguir isso."

A tarefa não será simples. Para atingir a meta, em novembro e dezembro deverá aumentar cerca de 20% em relação a setembro. Em palestra na UFRJ, a presidente Graça Foster destacou o investimento de US$ 5,6 bilhões em quatro anos para recuperar a produção da Bacia de Campos.

Esta é a área que mais preocupa o mercado. Segundo Formigli, o projeto de recuperação da eficiência, iniciado em abril, já dá resultados. Desde então, a produção cresceu em 16 mil barris/dia e a eficiência, de 70% para 72% - a meta é chegar a 90%. Outro programa semelhante será lançado em novembro, em campos novos da Bacia de Campos.

O aumento dos custos de produção e de refino reportado pela Petrobrás no trimestre foi destacado pelo Itaú BBA como ponto negativo. A extração ficou 15% mais cara entre o segundo e o terceiro trimestres e o custo do refino subiu 21%, por conta de acordos salariais que elevaram gastos com pessoal.

"A verdade é que a empresa não registrou melhoras operacionais", disseram os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes no relatório. Outro fator negativo foi a necessidade de importar combustíveis para atender à alta da demanda interna. Houve aumento de 45% no saldo negativo da balança comercial de derivados do segundo para o terceiro trimestre de 2012, o que significou déficit de 261 mil barris/dia. / SABRINA VALLE, FERNANDA NUNES, ANDRÉ MAGNABOSCO, SERGIO TORRES E BETH MOREIRA