Título: Crédito cresce pouco e revela distorções
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2012, Economia, p. B1

O aumento das operações de crédito não só foi pequeno entre agosto e setembro (+1,1%) e no período janeiro a setembro (+10,2%), em relação a 2011, como foi acompanhado de distorções - um novo aumento do peso do setor público, spreads mais altos nas operações com pessoas físicas e manutenção de elevados índices de inadimplência. Por isso, as pessoas físicas tomaram menos crédito livre, o que foi confirmado pelos primeiros dados de outubro do Banco Central (BC), até dia 17.

Em setembro, os bancos públicos aumentaram em 0,4 ponto porcentual a participação na oferta de crédito, chegando a 46,2% do total, enquanto o setor privado diminuiu seu peso em igual proporção, segundo a Nota de Política Monetária e Crédito do BC. Há, de fato, mais competição no setor bancário, mas, em parte, ela é feita à custa do Tesouro. Ou seja, dos contribuintes, pois os bancos estatais têm sido capitalizados com recursos públicos, inclusive mediante emissão de dívida pública, com implicações fiscais futuras.

Em contraste com a queda geral dos juros, os spreads (diferença entre o custo de aplicação e o custo de captação dos bancos) aplicados às pessoas físicas aumentaram ligeiramente, de 27,7 para 27,9 pontos porcentuais entre agosto e setembro. E as taxas médias desses empréstimos passaram de 35,6% para 35,8% ao ano.

Isso se explica - mas não se justifica - pela inadimplência. Esta foi de 7,9%, porcentual idêntico ao dos meses de julho e agosto. Até nos financiamentos a veículos, em que a garantia é considerada boa, a inadimplência é elevada, oscilando ao redor dos 6%.

Nos cálculos da consultoria LCA, a oferta de crédito caiu pelo terceiro mês consecutivo - para as pessoas físicas, a queda atingiu 3% na comparação entre os meses de setembro de 2011 e 2012, conforme dados deflacionados e dessazonalizados.

O crédito só tende a crescer nas linhas mais baratas ou direcionadas, como as do BNDES, rural e crédito imobiliário - neste caso, o crescimento, em 12 meses, foi de 37,8%. A relação entre empréstimos habitacionais e o PIB atingiu 5,9%.

O objetivo declarado do BC é limitar o aumento da oferta de crédito a 16% e 17%, entre 2011 e 2012, para não dar mais estímulo à demanda - e, em alguma medida, à inflação.

Mas a contenção do crédito está ocorrendo à custa dos bancos privados. E, se os bancos públicos não forem rigorosos na concessão de crédito, poderão se ver às voltas com um aumento de créditos podres, em especial se o crescimento econômico continuar medíocre.

--------------------------------------------------------------------------------