Título: Economistas debatem tripé da política econômica
Autor: Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2012, Economia, p. B10

O economista Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), defendeu ontem a mudança no tripé da política econômica brasileira. Na avaliação dele, o mundo vive a maior crise dos últimos tempos, que deverá se estender por 7 ou 10 anos. "Então, era preciso adaptar o modelo. Não tem jeito", destacou ele, que participou do seminário Crise, Política Fiscal e Política Econômica, na Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap)

Para Almeida, apesar de os juros terem caído violentamente e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferecer crédito subsidiado, os investimentos não reagiram. "Então tem de reduzir o superávit primário." O economista destacou ainda que no último ano, 100% do aumento do consumo de bens industriais foi absorvido pelo produto importado. "É um exagero. Quem vai investir se quem absorve o consumo é a empresa que está fora."

Na opinião do economista Fabricio Augusto de Oliveira, que lançou o livro Política Econômica, Estagnação e Crise Mundial, o Brasil não está imune à crise como muitos integrantes do governo fazem parecer. De fato, o País tem alguns pontos positivos que ajudam, como os bons fundamentos econômicos, a expansão do consumo e o aquecimento do mercado de trabalho. "Mas esse modelo tem limites", alerta ele.

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, além de todos os outros entraves, os investimentos também têm de conviver com o aumento da fiscalização do Tribunal de Contas da União, Ministério Público e outros órgãos. "Não se consegue gastar o dinheiro em caixa." O economista José Roberto Afonso, que também lançou um livro ontem, Keynes, crise e política fiscal, discorda que o principal problema da paralisia dos investimentos seja esse. "Daqui a pouco vamos voltar ao discurso de Keynes, que elogiava a forma de Hitler administrar a Alemanha." Ele acredita que o maior entrave esteja no financiamento. / RENÉE PEREIRA