Título: Nós já pagamos pela relação com Valério, afirma líder do PT
Autor: Gallo, Fernando ; Lupion, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2012, Nacional, p. A5

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto, chamou Marcos Valério Fernandes de Souza de "desqualificado" e afirmou que seu partido já pagou "um alto preço" por ter se envolvido com o empresário. "Agora chega, né, já pagamos os nossos pecados", disse Tatto, que minimizou o novo depoimento de Valério ao Ministério Público Federal, no qual ele afirmou que, se for incluído no programa de proteção à testemunha, poderá dar mais detalhes sobre o esquema do mensalão.

Conforme publicou ontem o Estado, Valério fez novos relatos sobre o esquema, nos quais mencionou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Antonio Palocci. Para Tatto, as afirmações são sinal de "desespero" que não merecem credibilidade. "Eu o vejo como uma pessoa desqualificada, que teve a oportunidade nesse período todo (do julgamento) de dizer as coisas e que agora, no momento em que foi condenado, fala qualquer coisa. Não merece o mínimo de credibilidade", disse o parlamentar ao chegar à sede do diretório nacional do PT, no centro, para participar reunião da executiva do partido.

Segundo ele, o fato de o Ministério Público não ter aberto, até o momento, nova investigação para apurar as declarações de Valério atesta não haver "nada de novo" no depoimento. "As relações dele com o PT são relações conhecidas, foi (a razão) inclusive de pessoas do PT estarem sendo condenadas por contratos que ele avalizou. Isso já está na ação penal 470", disse. No entanto, se os novos fatos apresentados pelo operador do mensalão forem relevantes, ele defendeu a abertura de investigação. "É a lei, tem que cumprir a lei, se o Ministério Público recebe uma denúncia, tem que investigar."

Tatto disse ainda que o PT deve encarar o julgamento do mensalão como um aprendizado e que as lições tiradas do episódio apontam para a necessidade de uma reforma política que incorpore o financiamento público das campanhas. "O PT sempre teve convicção de que é importante o financiamento público. Cada eleição que passa a gente acende essa chama de que tem que ter financiamento público. Ninguém aguenta mais (o financiamento privado)", disse.

"Jus Sperniandi". O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), considerou "lamentável" a eventual retomada de investigações sobre o mensalão com novo depoimento de Marcos Valério. "A expectativa de todos e da sociedade é que essa página do mensalão seja virada com o julgamento do Supremo. É lamentável a tentativa de querer retomar o processo de investigação no momento do julgamento", disse Maia. "Eu colocaria essas afirmações, esse suposto novo depoimento, no que ichamamos de jus sperniand. Depois de todas as investigações feitas, não cabe ilação sobre esse tema, principalmente, nessa direção de envolver o ex-presidente Lula. Isso já foi exaustivamente investigado pelo Ministério Público e pelo próprio Supremo. Não deve ser levada em consideração."

Já o senador Jorge Viana (PT- AC) chamou de "intolerância" e "irresponsabilidade" o fato de Lula ser citado por Marcos Valério. Ele chama o depoimento do empresário de "armadilha" e diz que fazer comentários sobre o que ele teria dito "é levar adiante uma irresponsabilidade, é pura intolerância de quem não aceita Lula , nem como ex-presidente". Viana voltou a pedir a Valério que conte tudo sobre o mensalão, "desde a sua origem com o PSDB e o DEM". / BRUNO LUPION, FERMANDO; GALLO e DENSSE MAOUENO