Título: Dilma e Alckmin vão definir ação integrada contra o crime organizado
Autor: Moura, Rafael Moraes ; Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2012, Metrópole, p. C1

Haverá criação de grupo de trabalho, transferência de bandidos para cadeias federais e parcerias nos moldes do que existe no Rodoanel

BRASÍLIA - Depois de três dias marcados por bate-bocas entre autoridades federais e estaduais por causa da crise na segurança pública em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff telefonou nesta quinta-feira, 1, para o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Os dois acertaram uma ação conjunta no enfrentamento da criminalidade. O telefonema serviu para apagar o incêndio criado pela briga entre seus subordinados.

Houve acordo em três pontos: criar um grupo de trabalho entre os governos para decidir ações nas áreas de segurança pública e da administração penitenciária, transferir presos de São Paulo para penitenciárias federais e dar às parcerias na área o mesmo status concedido àquelas que existem na construção do Rodoanel, no programa Minha Casa Minha Vida e no combate à miséria.

No grupo de trabalho, o governo federal será representado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encarregado de manter o diálogo com as autoridades designadas por São Paulo. Uma reunião envolvendo representantes dos dois lados deve ocorrer na próxima semana, segundo informou a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas.

O acordo entre os dois governos foi precedido por uma reunião no Palácio dos Bandeirantes entre o governador e sua cúpula da segurança pública. Estiveram com Alckmin os secretários Antonio Ferreira Pinto (Segurança) e Lourival Gomes (Administração Penitenciária).

Ficou acertado que os secretários vão apresentar uma série de pedidos de possíveis parcerias entre os governos. Depois do telefonema entre os chefes, o tom dos subordinados mudou.

"Aceitamos de bom grado a ajuda", disse Ferreira Pinto. Durante a semana, ele dizia que não aceitava demagogia na área e discutiu com o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, e com a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki.

Em entrevista ao Estado publicada nesta quinta, a secretária propôs uma ocupação da Favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, à semelhança da feita no Complexo do Alemão, no Rio, em 2010. Nesta semana, a PM achou em Paraisópolis uma central de espionagem do Primeiro Comando da Capital (PCC), onde se planejavam ataques contra policiais. "A gente sabe que São Paulo não precisa de capacitação policial, não precisa de equipamentos. O orçamento de segurança de São Paulo é alto. A questão é aliar inteligência, levar as forças federais e buscar as Forças Armadas em uma ocupação de Paraisópolis", disse Regina.

Ferreira Pinto reagiu dizendo que a proposta era "oportunismo barato" e "provocação". Segundo ele, o Palácio do Planalto queria superdimensionar o cenário de São Paulo para "desconstruir a segurança pública" do Estado. Até agora, Dilma havia se mantido afastada do debate.

Tanto Ferreira Pinto quanto Gomes não quiseram dar detalhes sobre o que vão pedir e o que acertaram com Alckmin. "O governador deve anunciar", afirmou Gomes. O secretário disse que não faria isso para "não alertar o crime organizado".

Presos. O que Gomes prepara em sigilo, porém, é a transferência de presos do PCC envolvidos nos ataques a policiais em São Paulo para presídios federais - o que havia sido oferecido por Cardozo. Entre as provas que devem ser usadas para justificar a transferência estão os papéis apreendidos com integrantes do grupo de Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, chefe do tráfico em Paraisópolis. Entre os papéis havia uma lista com 40 nomes de policiais marcados para morrer. Na lista, estavam endereços de policiais, suas características físicas e até locais que eles costumavam frequentar, como bares.