Título: Até falta de cabeço provoca atraso nos portos
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2012, Economia, p. B3

Práticos do Porto de Santos sugerem sete medidas para acelerar operações de carga e descarga, como mais equipamentos para a atracação de navios

Pequenos investimentos poderiam fazer uma "revolução" nos custos portuários do País, defendeu ontem o presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), Ricardo Falcão. Apontados como um dos "vilões" do frete no Brasil, os práticos do porto de Santos dizem que cobram abaixo da média mundial e sugerem sete medidas simples que acelerariam a operação de carga e descarga, com efeito imediato sobre os preços do transporte marítimo. Elas foram mencionadas em conversas na Casa Civil e na Secretaria Especial de Portos.

Segundo a Conapra, o principal porto do País padece da falta de cabeços de atracação, que são pequenos postes onde se prendem os cabos dos navios. Até oito embarcações usam um só ponto. Quando um deles precisa sair, os demais devem ligar os motores para que as cordas sejam movimentadas em segurança.

Só essa deficiência gera atrasos de 3 mil horas por ano, diz a entidade. Considerando um custo de afretamento de US$ 50 mil por dia, a perda anual para os transportadores chegaria a US$ 6,25 milhões. A instalação de 150 cabeços duplos sairia por um terço desse valor.

Outra sugestão é investir na cobertura dos terminais graneleiros, pois quando chove não se movimentam cargas como soja e açúcar. Há dois anos, 112 navios foram obrigados a aguardar uma média de 25 dias até conseguirem ser carregados com açúcar. Um prejuízo de US$ 98 milhões, com base num custo médio de afretamento de US$ 35 mil por dia.

Espera. A entidade sugere o aumento do número de rebocadores. No porto de Santarém, por exemplo, os navios podem enfrentar espera de até 12 horas pela falta desse equipamento.

O tempo de manobra e o risco às embarcações aumentam por causa de instalações inadequadas. A entidade prega a melhoria nas defensas (para proteção do navio) e flutuantes e espaçadores (para "estacionamento" de embarcações de grande calado), para que elas não representem risco para as embarcações.

Outra sugestão é utilizar equipamentos mais apropriados para a atracação de embarcações que têm cabos de aço, como é o caso dos navios-tanque. Hoje eles utilizam os cabeços simples, que são impróprios e tornam impossível uma desatracação de emergência, segundo alertam os práticos.

Na contramão do que estuda o governo, que quer extinguir algumas taxas, a entidade pede que sejam suspensos acordos de reciprocidade internacional pelos quais o País deixa de cobrar a Taxa de Utilização do Farol (TUF). A receita, acredita a entidade, seria útil para contornar problemas como o dos terminais da Região Norte, que não operam à noite por falta de sinalização.

Aumentar o número de práticos em atuação no País, como quer o governo, teria pouco impacto sobre o custo portuário. "Não resolve o problema", disse o presidente da Conapra. "Pergunte a um armador o que aconteceria com o preço do frete caso a praticagem fosse para zero. Sabe o que ele diria? Nada. Porque o frete é regido pelo mercado."