Título: Produção fraca adia expectativa de retomada
Autor: Neder, Vinícius
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2012, Economia, p. B3

Após o IBGE apontar queda de 1% da indústria em setembro, analistas dizem que recuperação ficou para o quarto trimestre

Os dados da produção industrial divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira - com queda de 1,0% em setembro ante agosto - contribuem para as estimativas de mais um recuo nos investimentos no terceiro trimestre. A recuperação deverá ficar para o quarto trimestre. No entanto, a velocidade da retomada continua sendo uma incógnita. Otimismo ou confiança moderados são as análises mais comuns.

Apesar do recuo de 12,4% na produção de bens de capital (um termômetro dos investimentos) de janeiro a setembro em comparação a igual período de 2011, o valor de empréstimos aprovados na Finame, linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para bens de capital, registrou no terceiro trimestre a primeira alta na comparação com 2011 neste ano: 3,5%.

Segundo Mario Bernardini, assessor econômico da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Finame financia cerca de 30% das vendas do setor e os dados sobre aprovações dão uma perspectiva do momento. Por isso, antes de serem divulgados os dados do IBGE e indicadores da Abimaq, Bernardini projetou um movimento de recuperação "suave" no fim do ano.

Depois das divulgações, José Velloso, primeiro-vice-presidente da Abimaq, adotou tom mais pessimista. "Não acredito que vá haver recuperação neste ano", disse, lembrando que dezembro e janeiro são meses tradicionalmente ruins para o setor. Na quarta-feira, a entidade anunciou queda de 19,6% no faturamento do setor em setembro em relação ao mesmo período de 2011. Velloso prevê que o ano encerrará com perda de 3%.

Para 2013, as perspectivas seguem positivas, apesar do dado negativo da produção industrial de setembro, segundo Silvio Sales, consultor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e ex-coordenador de Indústria no IBGE. "O dado de setembro não significa frustração para 2013", diz Sales, lembrando que o próximo ano terá como base de comparação os dados fracos deste ano, sobretudo para a indústria.

Além disso, há perspectivas mais positivas para a atividade econômica, como um possível impulso no consumo quando houver redução na inadimplência e no comprometimento de renda com dívidas e algum efeito das medidas de apoio ao investimento adotadas pelo governo.

No início da semana, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, previu forte elevação nos recursos liberados pela Finame neste quarto trimestre, passando de R$ 3,5 bilhões na média mensal do primeiro semestre para R$ 6 bilhões.

Parte da recuperação, segundo Coutinho, é efeito de medidas como a redução de taxas de juros do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), operado pela Finame, atualmente em 2,5% - juro real negativo, inferior à inflação projetada. Não por acaso, o governo planeja a extensão, de dezembro para março, dessas condições do PSI.

Velloso, da Abimaq, destacou que, embora a postergação seja "necessária", juros baixos não bastam. "Para o empresário investir, é preciso ter demanda", completou.

Na análise de David Kupfer, professor do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, há uma recuperação gradual no setor de bens de capital (além de máquinas e equipamentos, inclui caminhões e ônibus), pois a economia brasileira começa a sair de um processo de "reversão cíclica" iniciado em meados de 2011.

"Muitas vezes, investimentos decididos ficam aguardando o momento correto e a reversão cíclica atrasa o investimento", disse Kupfer, coordenador do Grupo de Indústria do IE/UFRJ e atualmente assessor da presidência do BNDES.

A reversão, "muito abrupta", foi formada por uma conjunção de fatores negativos: agravamento da crise na Europa, política contracionista do governo para segurar a inflação no início de 2011 e excesso de estoques provocado por certa euforia com o forte crescimento de 2010 - piorados pela adoção de motores menos poluentes para ônibus e caminhões.

A recuperação da produção e, em seguida, dos investimentos, passa pela "digestão de estoques", já em curso, e pelo ajuste estrutural a um novo mix macroeconômico, com câmbio estável e juros mais baixos.

Empresas acostumadas a mudar decisões rapidamente em função da volatilidade do dólar e a lucrar com aplicações financeiras perdem no curto prazo e ainda estão se adaptando.

Para Livaldo Aguiar dos Santos, presidente da Romi, fabricante de máquinas e injetores para a indústria plástica, o pior já passou e o "conservadorismo financeiro" da empresa foi importante. Após perdas seguidas desde o início do ano, a companhia viu a receita operacional líquida subir 50% no terceiro trimestre ante o segundo, para R$ 160 milhões - embora acumule prejuízo de R$ 33,234 milhões no ano.