Título: BB sente efeitos da queda dos juros e lucro recua 5,7% no terceiro trimestre
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2012, Economia, p. B6

Ganhos atingiram R$ 2,7 bilhões no período, enquanto crédito manteve forte ritmo de expansão; ações perdem mais de 4% na Bovespa

Assim como seus principais concorrentes, o Banco do Brasil sofreu no terceiro trimestre os efeitos da mudança de cenário no sistema financeiro: o lucro caiu 5,7% na comparação com igual período de 2011. A razão principal é justamente a receita menor com as operações de empréstimos. Os ganhos no período atingiram R$ 2,7 bilhões, ante R$ 2,9 bilhões em igual período e 2011.

"Grande parte da queda do lucro é reflexo da redução da taxa básica de juros (Selic)", reconheceu o vice-presidente de Finanças do BB, Ivan Monteiro. Os investidores não gostaram dos números e as ações do banco caíram 4,28% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O principal termômetro da bolsa, o Ibovespa, recuou 1,7%.

Para o analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, o principal ponto negativo do balanço do BB foi a queda do lucro e da rentabilidade (que ficou em 18,5% no trimestre), apesar da forte expansão do crédito no ano. Diferentemente dos bancos privados, o BB acelerou em 2012 a concessão de empréstimos.

Entre janeiro e setembro, o BB expandiu o crédito em 19,4%, em comparação a 7,3% do Itaú, 9,2% do Bradesco e 10,1% do Santander. "Por isso, era de esperar que o juro mais baixo teria um efeito menor nos números do BB", afirmou Santacreu.

"Para manter os níveis anteriores de lucro e rentabilidade, só há dois caminhos para o BB: elevar as taxas de juros cobradas dos clientes ou aumentar ainda mais o ritmo de alta do crédito, o que traz riscos."

O BB indicou que continuará agressivo nos empréstimos em 2013 e também disse que espera um acirramento da concorrência com os privados. "As projeções para 2013 ainda não foram concluídas, mas a concorrência, que foi menor este ano, deve se acirrar. O apetite dos privados deve aumentar à medida que a economia retome seu crescimento", avaliou o vice-presidente de negócios de varejo do BB, Alexandre Abreu.

Segundo ele, o crescimento do crédito em 2013 não deve ser "muito diferente" do visto este ano, em meio a um possível "aumento forte" da concorrência. Este ano, o BB espera que a carteira total de empréstimos avance entre 17% e 21%.

Outro fator que contribuiu para a queda do lucro do BB foi a alta nas provisões para devedores duvidosos (PDD). Na contramão, aliás, dos privados, que no terceiro trimestre deram os primeiros sinais de trégua de diminuição dessas reservas. No BB, essas provisões totalizaram R$ 3,764 bilhões, 2,4% mais que no trimestre anterior.

Inadimplência. Outro fator que ainda pesou nos resultados do BB foram as perdas do banco Votorantim, ocasionadas, principalmente, por conta da carteira de crédito a veículos (ler mais ao lado).

Considerando a inadimplência do Votorantim, o número de calotes do BB ficou em 2,17% no terceiro trimestre, com pequena elevação ante o indicador de 2,15% visto no segundo, considerando os atrasos acima de 90 dias. No entanto, a taxa é a metade da inadimplência vista nos grandes bancos privados.

Santander e Itaú têm o maior indicador, de 5,1%, e Bradesco o menor, de 4,1%. A expectativa de Rogério Calderón, diretor Corporativo de Controladoria do Itaú, e de outros executivos de bancos privados é de que a inadimplência continue caindo nos próximos trimestres.