Título: Alemanha vai cortar gastos, informa o FT
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/11/2012, Economia, p. B26

Acordo da coalizão governista foi fechado ontem e pode desapontar os países da zona do euro que esperam o apoio alemão

O partido governante da Alemanha aprovou na noite de ontem cortes nos gastos gerais do governo e redução na capacidade de endividamento fiscal do país para 2013, mesmo com os ministros da área econômica advertindo que a economia do país deve desacelerar o crescimento, informou o jornal "Financial Times".

O acordo, defendido pelos partidos de coalizão do governo no Parlamento alemão, reduz o déficit orçamentário em 9% e deixa Berlim bem perto de cumprir um autoimposto freio da dívida para alcançar um orçamento equilibrado antes da data prevista - 2016.

Os gastos gerais foram cortados em 3,1% para 302 bilhões, com base no crescimento esperado para o ano, e o déficit orçamentário dos 18,8 bilhões para 17 bilhões, contando com o aumento de impostos e a redução dos benefícios sociais.

Embora o orçamento da Alemanha preveja medidas que permitam modestos estímulos aos gastos domésticos, a decisão do Parlamento pode desapontar os outros membros da zona do euro que esperam da Alemanha, a maior economia do bloco, estímulos para o crescimento de suas combalidas economias.

Na segunda-feira, em viagem a Portugal, a chanceler alemã, Angela Merkel, deve enfrentar protestos contras as medidas de austeridade que vem sendo adotadas pelos governos da zona do euro em dificuldade como condicional para pacotes de ajuda financeira. Portugal está entre eles.

Ainda ontem, o Ministério da Economia avaliou que a economia da Alemanha vai mostrar um enfraquecimento "perceptível" nos meses de inverno (período equivalente ao verão, no Brasil), com as empresas segurando os planos de investimentos por causa da crise da zona do euro. "De modo geral, haverá uma dinâmica econômica perceptivelmente mais fraca no inverno", previu o ministério em um sua análise mensal da perspectiva econômica, acrescentando que os riscos permanecem "significativos".

Segundo o ministério, as empresas locais provavelmente vão evitar novos investimentos após a queda registrada em setembro nas encomendas à indústria.

Os últimos dados econômicos e pesquisas indicam que haverá uma forte desaceleração na Alemanha. A fraqueza no importante setor industrial ficou evidente esta semana, com a retração de 3,3% verificada nas encomendas à indústria em setembro em comparação a agosto e o recuo de 1,8% na produção industrial, na mesma comparação. Além disso, o índice IFO de confiança das empresas na Alemanha caiu ao menor nível em quase três anos, segundo a pesquisa do mês passado.

Na quarta-feira, a Comissão Europeia reduziu sua projeção de crescimento econômico para o país em 2013 para 0,8%, de 1,7% anteriormente, citando a fragilidade de importantes parceiros comerciais do país e incertezas relacionadas à crise fiscal.

Indicadores. A taxa de inflação da Alemanha não deverá ficar acima de 2%, afirmou Jens Weidmann, presidente do Banco Central alemão e membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE), em um artigo que será publicado no jornal Rheinische Post hoje. Segundo ele, "não há nenhuma causa direta para preocupação sobre inflação mais alta".

Weidmann destacou também que o crescimento global fraco está causando recessão em muitos países europeus e "isso está limitando os aumentos dos preços". Os comentários ecoam amplamente as declarações feitas na quinta-feira pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi.

O presidente do BC alemão alertou no artigo que o BCE precisará suspender a política monetária acomodatícia a tempo. "No prazo mais longo, nós precisamos estar extremamente alertas." Segundo ele, "tecnicamente, o BCE está em posição de retirar a política monetária expansiva a qualquer momento, mas nós precisamos também ter a força necessário para fazer isso".

O mandato principal do BCE é a estabilidade de preços, que é definido pela instituição como uma taxa anual de inflação de um pouco abaixo de 2% no médio prazo.

Na quinta-feira, Alemanha divulgou um superávit comercial de 17 bilhões (US$ 21,77 bilhões) em setembro, superando as previsões dos analistas de 16,9 bilhões , segundo informações do serviço de estatísticas do país, o Destatis.

As exportações alemãs caíram 2,5% em setembro, em comparação com agosto, revertendo os ganhos do mês anterior, e recuaram 3,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Com baixas encomendas da União Europeia, a forte queda das exportações indica que a crise da dívida soberana finalmente chegou às fronteiras alemãs.

As importações do país também foram revertidas em setembro, caindo 1,6% em comparação a agosto. Em relação ao mesmo mês do ano passado, as importações tiveram queda de 3,6%.

Na conta corrente o superávit ficou em 16,3 bilhões, bem acima das expectativas de 12 bilhões. / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS .