Título: Grécia capta € 4 bilhões e consegue evitar default
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2012, Economia, p. B9

Enquanto a Europa discute ajuda, país evita calote com títulos soberanos de três meses; França bate de frente com a UE, que segue sem definir auxílio

Em um último recurso para evitar o calote de pagamento, a Grécia retornou ontem aos mercados financeiros e vendeu um total de € 4,06 bilhões em títulos soberanos para saldar dívidas.

A estratégia funcionou e permitirá ao governo de Antonis Samaras saldar um total de € 5 bilhões em dívidas com vencimento em 16 de novembro, ganhando tempo para que a União Europeia supere as divergências e conceda mais dois anos ao país para chegar ao equilíbrio financeiro.

A venda foi realizada pela manhã, quando a Agência de Gestão da Dívida Pública (PDMA) ofereceu aos investidores privados títulos com validade de um e três meses, pelos quais teve de pagar juros que variaram entre 3,95% e 4,2%. Ao Parlamento Europeu, o ministro de Finanças da Grécia, Yannis Stournaras, reconheceu que o país chegou ao seu limite, e que evitou a moratória por detalhe. "Compreendo que nos façam pressão para que a Grécia implemente medidas exigidas em troca da ajuda, mas agora o risco de acidente é muito elevado", disse o ministro.

Stournaras se referia à parcela de € 31,3 bilhões do plano de socorro da União Europeia e do FMI que ainda não foi depositada na conta do país. Atenas vivia uma inspeção da troica - o grupo de técnicos do Banco Central Europeu (BCE), da UE e do FMI. Em troca da liberação desse empréstimo, o governo de Samaras submeteu ao Parlamento na semana passada um novo programa de rigor prevendo o corte de mais de € 10 bilhões do orçamento - o que provocou protestos e enfrentamentos entre a polícia e manifestantes.

A indecisão dos países da zona do euro sobre a concessão do empréstimo indignou ontem o presidente da França, François Hollande. Em entrevista coletiva em Paris - a primeira de seu governo -, o chefe de Estado elogiou os sacrifícios feitos pelo governo grego e disse que é hora da solidariedade. "A Grécia fez o esforço que lhe foi pedido e não pode fazer mais do que já foi feito. Foi bastante difícil para o governo Samaras aprovar a proposta que lhe foi pedida", argumentou Hollande. "Vamos trabalhar nos próximos dias uma forma de permitir que não haja necessidade de técnica de refinanciamento."

De uma vez. Nos bastidores de Bruxelas, Paris e Berlim, um acordo multilateral segue sendo negociado. Na Alemanha, o ministro de Finanças Wolfgang Schäuble revelou ao jornal Bild que a UE estuda liberar todas as parcelas de empréstimo até aqui bloqueadas e por vencer em um mesmo momento, cerca de € 44 bilhões à Grécia - tudo parte do segundo plano de socorro, aprovado em 2011. "Não há oposição da parte da Alemanha neste sentido, mas ela faz parte das discussões e, claro, fez parte das conversas que eu e meu colega Pierre Moscovici tivemos nesta manhã", confirmou, referindo-se ao encontro com o ministro francês da Economia.

Segundo a agência France Presse (AFP), o FMI não participará de um eventual novo esforço financeiro para conceder à Grécia dois anos a mais para começar a pagar as dívidas, como solicita o governo de Samaras, e que aumentaria o custo dos empréstimos já concedidos em dezenas de bilhões.

A confirmação foi feita pelo brasileiro Paulo Nogueira Batista, representante do Brasil e de 10 outros países no Conselho de Administração do FMI. "O fundo já emprestou imensas somas de dinheiro à Grécia e eu não apoiarei nenhum pedido que aumente o apoio do FMI ao país", afirmou, segundo a agência.

Protestos. Enquanto os líderes políticos discutem a ajuda ao país, dezenas de milhares de manifestantes contra a política de austeridade implantada na Europa devem se reunir hoje nas principais capitais do bloco. Os maiores protestos estão previstos para Madri, Atenas e Lisboa.

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