Título: Os paradoxos do nível do emprego atual no Brasil
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2012, Economia, p. B2

O mercado de trabalho, nos últimos meses, exibe um quadro paradoxal: existe um quase pleno emprego, porém começa a se verificar na indústria uma queda do nível de emprego e a folha de pagamentos acusa nítida redução, crescendo apenas no setor dos bens não comercializáveis (serviços). Apesar disso, o governo brasileiro estuda uma abertura para a mão de obra estrangeira especializada. A palavra desemprego apareceu recentemente por aqui, porque até pouco tempo o Brasil era imune a esse fenômeno, que parece tomar conta de todos os países do Hemisfério Norte. Os dados relativos ao pleno emprego têm uma explicação relativamente simples, com origem na evolução demográfica, embora isso tenha sido previsto: estamos assistindo a uma forte redução dos jovens que chegam ao mercado de trabalho, fenômeno que se vê potencializado pelo fato de haver um aumento paralelo de jovens ingressando no ensino superior. Esse fator favorece a impressão de uma fase de pleno emprego na economia, o que, como se sabe, estimula reajustes salariais acima do desejável,mais ainda para os trabalhadores especializados, coisa que já se fazia sentir há muito tempo, em razão da baixa qualidade do ensino, mas que se exacerba agora. Isso, aliás, explica que o nível de emprego não se reduza, como seria normal diante da evolução péssima da produção industrial.

Quando se tem um trabalhador especializado, embora esteja subempregado, procura-se mantê-lo na empresa sabendo das dificuldades que haverá para contratar um outro também especializado, quando a produção for retomada. Além disso, não podemos esquecer do custo elevado para demitir um empregado, o que faz com que a empresa prolongue ao máximo sua permanência na função. O governo age de maneira muito sensata quando se mostra inclinado a abrir as fronteiras a operários e técnicos estrangeiros especializados. Estamos atravessando um período muito propício para atraí-los ao nosso país, em razão da amplitude do desemprego nos países desenvolvidos. O número de operários dispostos a se exilar cresceu muito e atinge quase todos os setores de atividade. O único cuidado que se precisa ter é em escolher realmente os melhores especialistas e em atividades pouco cultivadas no Brasil. A presença desses profissionais poderá ter efeitos importantíssimos para a economia em geral, assim como permitir um avanço na realização de investimentos que estão sofrendo grande atraso.