Título: Coronel é alvo de ação por tortura de militantes
Autor: Azevedo, Lucas
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2012, Nacional, p. A18

O Ministério Público Federal moveu ontem ação civil pública na Justiça contra a União e o co­ronel da reserva do Exército Lício Augusto Ribeiro Maciel, pela prisão ilícita, tortura e homicí­dio de quatro militantes do Movi­mento de Libertação Popular (Molipo), que combatia a ditadu­ra militar, em cidades do Tocan­tins, nos anos 1970.

Em julho, o Estado divulgou fotos inéditas do corpo de Ruy Carlos Vieira Berbert, um dos mortos do Molipo, e relatórios com informações sobre a prisão e morte de outros três integran­tes do movimento - Jeová Assis Gomes, Boanerges de Souza Massa e Arno Preiss.

Os corpos dos quatro militan­tes nuncaforam localizados. Mo­radores de Natividade, em To­cantins, disseram ao Estado que Berbert chegou a ser enterrado no cemitério da cidade. OMP pe­de que a prisão onde Berbert foi encontrado morto seja preserva­da. O MP quer também que a União seja declarada responsá­vel pelos crimes e "pela omissão em não ter identificado as cir­cunstâncias e os responsáveis pe­los atos desumanos praticados".

Ao lado do também coronel da reserva Sebastião Curió, Maciel, conhecido pelo codinome Dr. Asdrúbal, integrou as tropas do Exército que esmagaram a Guer­rilha do Araguaia (1972-1974). Os dois estão entre os agentes da repressão mais processados no País pelo MP por graves viola­ções de direitos humanos.

Ouvido pelo Estado, Maciel mostrou-se indignado com a de­núncia. "Estava combatendo co- munistasguerrilheiros, como es­ses vagabundos da Molipo", es­bravejou. "Os que resistiram, morreram; quem não reagiu, vi­veu", resumiu. A Advocacia Ge­ral da União vai sustentar, como tem feito em casos semelhantes, que os crimes atribuídos ao regi­me militar foram perdoadospela Lei da Anistia, de 1979. A Justiça tem acatado essa argumentação.