Título: O governo destrói brutalmente o valor da Eletrobrás
Autor: Warth, Anne ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2012, Economia, p. B4

O ex-conselheiro da Eletrobrás José Luiz Alquéres afirmou que medidas do governo têm destruído "brutalmente o valor" da companhia, por não considerarem aspectos da realidade de mercado, segundo carta de demissão obtida pela agência de notícias Reuters.

Em documento entregue na terça-feira por ocasião de sua renúncia ao cargo no Conselho de Administração da estatal federal, Alquéres - que já presidiu a Eletrobrás - afirmou estar deixando a posição por conflito de interesse, já que desempenha trabalhos de consultoria e aconselhamento para empresas do setor elétrico.

Alquéres representava os interesses dos acionistas minoritários no Conselho da Eletrobrás.

O pedido de renúncia foi feito na mesma reunião em que o Conselho da Eletrobras aceitou recomendação da diretoria da empresa, com base em parecer técnico, de indicar a seus acionistas que aprovem a renovação antecipada e condicionada de concessões elétricas que venceriam de 2015 a 2017.

A Eletrobrás é a empresa mais afetada pela MP, que trata da renovação das concessões. O governo federal ofereceu indenização de R$ 14 bilhões ao grupo por ativos não amortizados, dentro do processo, mas o valor é menos da metade dos cerca de R$ 30 bilhões nos registros contábeis da companhia.

"O momento de mais uma reforma institucional que o setor está entrando com a vigência da recentíssima MP 579 ampliou sobremaneira a possibilidade de conflito entre a minha atuação como conselheiro da Eletrobrás e minhas demais atividades", afirmou Alquéres.

Na carta, o ex-conselheiro também menciona sua posição em defesa da privatização imediata das distribuidoras federalizadas, "o que poderia mesmo trazer desconforto político ao nosso acionista majoritário", que é o governo federal.

Em 11 de outubro, duas fontes disseram à Reuters que a Eletrobrás estuda a possibilidade de vender suas seis distribuidoras de energia integralmente ou parcialmente. As subsidiárias - que atuam no Piauí, Rondônia, Acre, Amazonas, Alagoas e Roraima - acumulam prejuízos.

Procurada, a Eletrobrás confirmou o teor da carta do ex-conselheiro e disse que não comentaria o assunto.

Além da indenização por investimentos não depreciados abaixo do pleiteado pela companhia, a Eletrobrás terá de aceitar receitas em geração e transmissão ao redor de 70% menores às praticadas atualmente se renovar as concessões. Nesse cenário, a companhia poderá ter geração de caixa negativa, segundo a agência de classificação de risco Fitch.

A renovação antecipada das concessões é parte importante do plano do governo para reduzir a conta de luz em 2013 em 20% para elevar a competitividade brasileira. / REUTERS