Título: Eletrobrás adere a plano do governo e ações caem
Autor: Warth, Anne ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2012, Economia, p. B4

Apesar das perdas, Conselho de Administração recomenda a acionistas aceitar a proposta e representante dos minoritários pede demissão

Na contramão das primeiras movimentações do setor privado, o Conselho de Administração da Eletrobrás decidiu recomendar a seus acionistas que aceitem a proposta do governo para renovar as concessões de geração e transmissão que a companhia detém com vencimento entre 2015 e 2017.

A decisão foi tomada na terça-feira, apesar de o próprio presidente da empresa, José da Costa Carvalho Neto, ter enfatizado ao longo das últimas semanas que as novas tarifas impostas pelo governo devem representar perdas anuais de até R$ 9 bilhões pelas próximas três décadas. Previsão que começou a se concretizar com a divulgação ontem à noite do balanço do terceiro trimestre da estatal. A Eletrobrás terá uma perda de receita de R$ 9,629 bilhões em 2013 nas operações de geração e transmissão com a renovação das concessões, o que corresponde a cerca de 47% do total previsto para o ano.

Somente a receita de transmissão para o ano que vem (proveniente de ativos afetados e não afetados pela proposta do governo), passará de R$ 6,365 bilhões para R$ 2,428 bilhões. Já a receita de geração passará de R$ 14,024 bilhões para R$ 8,332 bilhões. A maior perda será da Chesf, de R$ 6,138 bilhões para R$ 3,936 bilhões, cerca de 60%. Furnas terá uma perda de 56% na receita para o ano que vem, passando de R$ 10,906 bilhões para R$ 5,238 bilhões.

A Eletrobrás reportou ainda que o saldo a ser indenizado dos investimentos em transmissão e geração que não foram amortizados totaliza R$ 32,75 bilhões. Apesar do número, o balanço mostra que o governo federal está propondo indenização total de R$ 14,02 bilhões. Isso implica que, no cenário de renovação das concessões, a holding federal perderá R$ 18,72 bilhões em indenizações dos seus ativos.

Demissão. Em meio ao processo de renovação das concessões, o representante dos acionistas minoritários no Conselho de Administração da companhia, José Luiz Alqueres, pediu demissão. A saída foi minimizada pelo ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, que preside o conselho da estatal. "O conselheiro pediu para sair e é normal que ocorra. Isso não tem maiores efeitos na empresa."

Essa não foi a avaliação do mercado. Ontem, depois que a estatal comunicou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a decisão do Conselho de Administração, as ações da companhia voltaram a cair. Os papéis com direito a voto (ON) perderam 4,15%, enquanto as ações que garantem preferência no recebimento de dividendos (PN) recuaram 5,07%.

A adesão da Eletrobrás ao programa do governo deve garantir a intenção da presidente Dilma de reduzir a conta de luz em 20% a partir do início de 2013. A empresa possui 67% das concessões de geração e praticamente metade dos contratos de transmissão que serão renovados. Mas a Eletrobrás pode ser compensada por esse sacrifício, indicou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao ser questionado sobre a possibilidade de a estatal receber uma injeção de recursos do governo. A companhia tem participação em projetos como as hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio, Teles Pires, parte de Belo Monte, além da unidade nuclear de Angra 3, a linha de transmissão do Complexo do Rio Madeira e diversas usinas térmicas. "Se formos capitalizar a Eletrobrás, não será por esse motivo (o pacote de energia). Será para viabilizar novos investimentos e a expansão da empresa, como já fizemos. Não muda nada.",

Tropa de Choque. Mantega foi mais um dos convocados a defender a ideia do governo para renovar as concessões e reduzir a conta de luz. O ministro admitiu que não há um plano B, caso haja uma eventual desistência em massa das concessionárias em relação à proposta. "Se houver uma ou duas defecções, não vai alterar os 20% de redução média das tarifas para todo o País. Não abro mão dos 20%." / COLABORARAM WELLINGTON BAHNEMANN e LUCIANA COLLET