Título: Empresários articulam fórum Brasil-Argentina
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2012, Nacional, p. A8

Representantes de empresas dos dois países promovem no fim de novembro o maior encontro industrial já realizado entre os parceiros

"Brasil e Argentina não podem mais ficar brigando na plataforma da estação, porque senão vão perder o trem da História." Com esta metáfora ferroviária, o empresário José Ignácio De Mendiguren, presidente da União Industrial Argentina (UIA), defende que os conflitos comerciais devem ser deixados de lado, já que existem prioridades urgentes que os dois países devem enfrentar.

"O Brasil e a Argentina não podem continuar buscando no passado soluções para os problemas que estão vindo", afirmou ao Estado. De Mendiguren, que foi ministro da Produção da Argentina, está organizando para os dias 27 e 28 de novembro a maior reunião industrial brasileiro-argentina já realizada.

O encontro, que será realizado na cidade de Cardales, 77 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, reunirá a nata da Confederação Nacional da Indústria (CNI) do Brasil e do empresariado argentino, e contará com a presença dos chanceleres e dos ministros do desenvolvimento dos dois países. A expectativa da UIA é de que também participem as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. "Estamos no aguardo da confirmação", disse De Mendiguren.

Em seu escritório no histórico prédio da UIA na avenida de Mayo, "El Vasco" (O Basco), como é chamado por seus amigos e pela própria presidente Cristina Kirchner, sustenta que o objetivo do conclave é o de reunir os empresários dos dois países para definir propostas para "acelerar" a integração bilateral.

"Chega de palavras retumbantes e declarações de ações que nunca se concretizam. Temos de agir, e já", diz De Mendiguren. "Esse encontro pretende debater estratégias desde a economia real. Será o primeiro fórum para analisar e resolver problemas, além de avaliar os potenciais para os respectivos desenvolvimentos", afirma.

De Mendiguren afirma ainda que a reunião não pretende discutir "casos circunstanciais", já que o objetivo "é a integração potencial". "O Brasil e a Argentina representam um mercado de 250 milhões de consumidores. Enquanto o resto do mundo encolhe, nossos dois países possuem classes médias que aumentam."

O industrial dispara uma série de dados com os quais defende a integração. "Brasil e Argentina representam 55,3% da superfície da América Latina; são responsáveis por 50% da produção mundial de soja; 11% da produção de milho e 10% do leite mundial. Juntos, produzem mais de 4,3 milhões de automóveis, volume que posiciona nossas montadoras no sexto posto mundial."

Protecionismo. De Mendiguren é cauteloso quando se refere às medidas protecionistas que o governo Kirchner aplicou nos últimos anos, que atingiram produtos de todo o mundo, incluindo os brasileiros. "Existem certas políticas no governo argentino, com as quais podemos concordar ou não. Mas estamos em um cenário internacional complexo, que prioriza as balanças comerciais. São respostas para um cenário de ameaças internacionais, mas são medidas circunstanciais. O Brasil já passou por isso, nos anos 90, quando teve problemas de balança comerciais e detinha os caminhões com produtos argentinos na fronteira. Eu mesmo passei por essas coisas (De Mendiguren exportava têxteis ao Brasil na época). Hoje sabemos que nossa relação bilateral precisa ser equilibrada para que as coisas deem certo."

"O Mercosul teve seus custos. Por isso, precisamos pegar o lado bom desses anos e, mais do que olhar para trás, temos de olhar para a frente, pois a região está rodeada de ameaças. E também não dá para fechar a região do exterior, construindo um muro alto, achando que, com isso, nos salvamos dos problemas."

De Mendiguren afirma que mais além das polêmicas políticas sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, o ingresso desse país favorece os setores industriais do Brasil e da Argentina: "Para nossas empresas, a Venezuela, país com baixa industrialização, é uma oportunidade."

Crescimento. De acordo com De Mendiguren, a UIA estima que a Argentina terá um crescimento de 2% a 2,5% neste ano. "Para o ano que vem, esperamos um desempenho melhor. Para nós, o melhor cenário é que o Brasil continue crescendo. Nós queremos comprar mais do Brasil...e vender muito mais ainda aos brasileiros."