Título: Um alerta para os riscos do pré-sal
Autor: Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2012, Economia, p. B10

Coletânea de Fabio Giambiagi e Luiz Paulo Vellozo Lucas será lançada amanhã e discute o modelo de exploração de petróleo no Brasil

Os investimentos necessários para explorar o pré-sal brasileiro, caso se confirmem as estimativas mais otimistas, de acréscimo de 100 bilhões de barris às reservas nacionais, chegarão a US$ 1,2 trilhão. O cálculo, feito pelos economistas Walter de Vitto e Richard Lee Hochstetler, com base em preços de 2011, projeta para meados do século o término da instalação de todos os sistemas requeridos para a extração das reservas. Isso considerando investimentos anuais de US$ 30 bilhões.

Neste ritmo, alertam, a exploração e produção de petróleo chegariam a responder por 5% de todo o estoque de capital do País. "A riqueza derivada do petróleo pode servir de alavanca para o desenvolvimento, mas também tem o potencial de ocasionar grandes e duradouros estragos para a economia", concluem os economistas, autores de um dos 14 capítulos escritos por 23 especialistas e reunidos em livro pelos economistas Fabio Giambiagi e Luiz Paulo Vellozo Lucas.

Petróleo - reforma e contrarreforma do sistema petrolífero brasileiro tem o objetivo declarado de incitar o debate sobre a política atual enérgica e "corrigir o rumo das ações do governo no setor de petróleo". Será lançado amanhã, pela Livraria Cultura, quatro dias antes do fim do prazo legal para sanção ou veto presidencial ao projeto de autoria do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) de redistribuição dos royalties do petróleo, tema de um dos capítulos. "Foi pura coincidência" diz Giambiagi, que está em seu 20.º livro.

"Virei especialista em coletâneas", brinca. Os grandes questionamentos do livro são a política de tornar a Petrobrás operadora única do pré-sal; mudar a política de distribuição de royalties; impor uma paralisia no processo de novas licitações de áreas exploratórias e manter "política discricionária" e artificial nos preços dos combustíveis.

Retrocesso. Prefaciado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que diz estar convencido de que "no setor de petróleo e gás houve grande retrocesso a partir de 2007" - início do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva -, o livro propõe a reavaliação de decisões tomadas nos últimos anos, na esteira do pré-sal. "O mundo não está parado à espera de o Brasil resolver seus impasses", adverte FHC.

Por diversas vezes é questionada no livro a capacidade de a Petrobrás assumir o papel, determinado pelo governo, de operadora única das reservas do pré-sal, com o mínimo de 30% de participação em todas as áreas que serão exploradas. A incumbência, na visão geral dos autores, pode ser mais nociva do que vantajosa para a empresa. Mas um capítulo específico ressalta a mudança recente de relacionamento da estatal com o mercado financeiro.

Transparência. "Nunca vi tamanha transparência na Petrobrás como agora", diz Ana Siqueira, engenheira de produção, ex-BNDES, que já ocupou o cargo de analista sênior de petróleo e energia do Banco Icatu e hoje é consultora de investimentos. Em seu trabalho, ela acompanha a trajetória da Petrobrás desde 1996, sob a ótica do mercado. Lembra que a ação preferencial (sem direito a voto) da empresa teve valorização nominal acumulada de 1.104% nos dez anos entre dezembro de 1996 e 2006, bem acima da alta de 532% registrada pelo Índice Ibovespa no mesmo período. Já entre dezembro de 2006 e junho de 2012, o resultado foi uma desvalorização acumulada de 26,7%, período em que o Ibovespa apresentou valorização acumulada de 22,2%.

"Podemos observar que os preços de junho de 2012 estão próximos ao preço do pior momento da crise de 2008 para as ações da Petrobrás", salientou Ana, em seu capítulo. A especialista chama a atenção para a expectativa em torno da política de preços da estatal e o quanto isso a penaliza. "A incerteza existente é se a empresa será realmente compensada futuramente via política de preços. A preocupação que surge é: o porte da Petrobrás teria tornado desnecessária a sua compensação por preços praticados abaixo da paridade internacional", indaga.