Título: Objetivo é enfraquecer a mídia crítica
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2012, Internacional, p. A18

Como é, historicamente, a relação entre imprensa e governo na Argentina?

Nunca os meios de comunicação, nem seus interesses comerciais, estiveram tanto na agenda do governo como agora. A imprensa hoje tem setoristas de mídia, o que não ocorria antes. Mesmo no início do governo Néstor Kirchner não havia tanto confronto. Ele chegou à presidência em uma situação de debilidade política, após ter ganhado uma eleição complicada. Ele precisava crescer e consolidar-se politicamente, então teve boas relações com a imprensa, principalmente com o Clarín e o Página 12. Naquela época, os meios de comunicação não estavam na agenda. Néstor dedicou-se a outros temas, como a economia e a reforma do Judiciário. Nas eleições de 2005, quando Cristina se candidatou ao Senado, houve rusgas, mas não era uma coisa sistemática. O cenário mudou em 2008, com o locaute agropecuário, quando o Clarín rompeu com o governo.

Esta é a primeira tentativa judicial de impor penas aos meios de comunicação após a ditadura?

Na ditadura houve censura, que foi uma coisa diferente. O controle com censura prévia, com um delegado na redação controlando o que era publicado. Hoje não há censura, mas há um nível de pressão sobre a imprensa por meio da Lei de Mídia, da distribuição de publicidade oficial e do discurso de confronto do governo

Como o senhor avalia a estratégia comunicacional do governo?

É uma estratégia ampla e diversa, dividida em quatro eixos. Uma parte é a distribuição desigual da publicidade oficial. Muito dinheiro é dado aos meios de comunicação amigos do governo e pouco aos críticos. Além disso, houve uma ofensiva judicial, com a Lei de Mídia e a estatização da Papel Prensa, para restringir economicamente os meios críticos. Em terceiro lugar, os meios públicos cresceram e ganharam espaço na agenda pública por diversas vias. Por fim, o governo também promoveu a compra de meio de comunicação por empresários amigos.

O Grupo Clarín diz que nem todos os meios são tratados da mesma maneira na lei...

O governo não tem tanta má vontade com outros grupos como com o Grupo Clarín. Um dos objetivos não declarados é enfraquecer o grupo.

Quais são os pontos positivos da Lei de Mídia?

Garantir uma multiplicidade de vozes de canais e de expressão. A maioria dos artigos vai nesse sentido e isso é positivo. / L.R.