Título: Na Argentina, Dilma pede equilíbrio comercial
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/11/2012, Economia, p. B6

Em discurso no encerramento de evento empresarial, presidente usou tom diplomático para criticar o protecionismo do governo de Cristina Kirchner

A presidente Dilma Rousseff - com um discurso sutil - criticou ontem o protecionismo comercial do governo da presidente Cristina Kirchner durante discurso no encerramento da reunião de cúpula empresarial da União Industrial Argentina (UIA) e da Confederação Nacional de Indústria (CNI), no elegante hotel-spa de Los Cardales, a 77 quilômetros de Buenos Aires.

"Sempre devemos procurar um equilíbrio comercial. Mas nosso equilíbrio não pode ser feito com base na redução de nossas relações, mas sim com a ampliação", disse Dilma. As reclamações, ditas em tom diplomático, seriam alusão às restrições argentinas sobre as importações de produtos brasileiros.

As barreiras do governo Kirchner provocaram, segundo a consultoria Abeceb, o encolhimento em 63% entre janeiro e outubro do superávit comercial do Brasil com a Argentina no mesmo período do ano passado. Desde janeiro o Brasil acumula US$ 15,103 bilhões em vendas ao mercado argentino. Isso equivale a 20% de queda ante o mesmo período do ano passado.

"Nós não podemos negar o impacto adverso sobre as exportações por causa das restrições administrativas no intercâmbio comercial. Mas os números de 2012 refletem uma redução da produção não só no Brasil e na Argentina", disse Dilma, sob olhares sérios de Cristina.

Nos últimos anos, o governo Kirchner aplicou uma bateria de restrições a produtos brasileiros, que vão desde a aplicação de licenças não automáticas, passando por valores-critério e a imposição de cotas. Ao mesmo tempo, alguns produtos fabricados no Brasil perderam espaço no mercado argentino para mercadorias fabricadas na China.

"Não pode haver um desvio de comércio em benefício de parceiros extrarregionais. Podemos ter parceiros fora do Mercosul. Mas não em detrimento de integração regional", disse Dilma. Segundo ela, "o Brasil deseja que os produtos argentinos participem em uma proporção maior no mercado brasileiro e que os produtos argentinos entrem no Brasil não como se fossem de outro país, mas como um produto de conteúdo local".

O discurso da presidente Dilma foi realizado no encerramento da 18.ª reunião anual da UIA, que desta vez incluiu um inédito encontro com uma centena de empresários brasileiros. Dilma afirmou que o Brasil e a Argentina "devem superar os conflitos comerciais e reduzir nossas assimetrias". "O estoque dos capitais brasileiros na Argentina soma US$ 15 bilhões atualmente, e deverá elevar-se para US$ 20 bilhões nos próximos cinco anos. Os investimentos argentinos no Brasil são de US$ 5 bilhões, valor que deve crescer."

Maiores. Ao contrário de Dilma, que fez um discurso concentrado na relação bilateral, a presidente Cristina Kirchner preferiu uma dissertação carregada de acusações a investidores internacionais, credores, problemas internos energéticos argentinos, entre outros assuntos.

Nas poucas referências à relação comercial com o Brasil, Cristina disparou indiretas sobre as restrições brasileiras aplicadas neste ano contra os lagostins argentinos. "Os lagostins argentinos são muito competitivos, muito maiores que os brasileiros!", exclamou Cristina.