Título: Para aliados de Serra, processo foi atropelado
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2012, Nacional, p. A4

Aliados do ex-governador José Serra (SP) no PSDB reagiram com desconforto ao lançamento do nome de Aécio Neves (MG) para a presidência do partido e para a eleição presidencial de 2014. Reservadamente, os paulistas reconhecem a força do senador mineiro, mas afirmam que o processo de definição da candidatura da sigla está sendo "atropelado".

Amigo de Serra, o senador Aloysio Nunes (SP) evitou se manifestar sobre a candidatura de Aécio, mas disse que é cedo para levantar a discussão. "O lançamento de uma candidatura presidencial não pode ser apenas um discurso. Tem que ser resultado de um processo de unificação do partido, da atualização do nosso programa", afirmou. "Acho que você precisa administrar bem esse tempo. Como diz o caipira, não pode ser nem muito cedo para roçar, nem muito tarde para carpir."

Serra mantém resistência à ascensão interna de Aécio, com quem disputa poder dentro do PSDB. Aliados do ex-governador paulista exigem que o senador mineiro abra espaço para políticos de São Paulo na cúpula do partido caso Aécio passe a comandar a legenda no ano que vem, sob o pretexto de unir a sigla.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB e aliado de Serra, afirmou que tanto Aécio quanto o ex-governador paulista podem comandar a legenda a partir do ano que vem. "São as figuras mais representativas do partido hoje", disse.

Os serristas não revelam se o ex-governador tem a intenção de disputar novamente a Presidência da República, mas temem que o fortalecimento de Aécio faça com que o senador mineiro isole a seção da sigla em São Paulo e permita que ele seja "ungido" candidato à sucessão de Dilma Rousseff, com a bênção de Fernando Henrique Cardoso.

Serra não participou do encontro de ontem do PSDB. Ele viajou para os Estados Unidos na semana passada, para visitar parques da Disney com os netos. Em uma reunião com o governador Geraldo Alckmin há cerca de 10 dias, Serra teria admitido que Aécio havia acumulado força suficiente para chegar ao comando nacional do PSDB.

Para o senador Álvaro Dias, líder do partido, o PSDB deve escolher o nome do candidato ouvindo seus filiados numa eleição primária, o que "fortaleceria o PSDB, valorizando as lideranças do partido".

Aliados de Serra trabalham com a alternativa de emplacá-lo na presidência do Instituto Teotônio Vilela, braço de estudos do PSDB, com orçamento próprio e autonomia para organizar eventos e publicar artigos. / ISADORA PERON e BRUNO BOGHOSSIAN