Título: BC vende dólar pela 1ª vez desde 2009
Autor: Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2012, Economia, p. B5

Para segurar a alta do dólar, que chegou a bater em R$ 2,135, 0 Banco Central (BC) realizou ontem uma série de intervenções no câmbio, inclu­sive com a oferta de dinheiro das reservas internacionais. No fim do dia, a moeda ameri­cana encerrou os negócios a R$ 2,119, queda de 0,38% em re­lação a sexta-feira. A cotação já subiu 13,38% neste ano e 4,28% nos últimos 30 dias.

Desde abril de 2009 o BC não vendia dólares no mercado. Nas últimas vezes em que interveio para segurar as cotações, a auto- Hdade monetária utilizou con­tratos de câmbio, o que não afeta

o nível das reservas, que estão hoje em US$ 378,5 bilhões. On­tem, por exemplo, antes de ven­der dólares, o BC fez dois leilões de contratos, que somaram mais de US$ 2 bilhões. O vencimento de outros contratos de câmbio representou a injeção de mais US$ 1,5 bilhão no mercado.

A cotação chegou a ficar abai­xo de R$ 2,10. A tarde, o dólar voltou a subir, e o BC decidiu en­tão realizar dois leilões de venda "temporária" de moeda das re­servas. Nessa operação, quem compra os dólares se comprome­te a vendê-los de volta ao gover­no, por um valor maior, daqui 30 ou 60 dias.

A venda por tempo determina­do tem por objetivo aumentar a oferta de moeda na virada do ano, período em que há aumento de remessas para o exterior e es­cassez de recursos.

No. mês passado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, afir­mou que a instituição tem muni­ção para intervir no mercado de câmbio neste fim de ano, se for identificado desequilíbrio que possa alterar de forma significati­va o valor da moeda ante o real. Segundo ele, tradicionalmente, a oferta de dólares diminui nesta época, e a demanda aumenta, um movimento temporário.

Humor da indústria. O resultado fraco da economia brasileira divulgado na sexta-feira contribuiu para impulsionar as cotações. A avaliação dos analistas é de que o governo pode buscar um nível mais alto para a moeda estrangeira, de forma a estimular, principalmente, o setor industrial.

O presidente da Confedera­ção Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, demonstrou ontem bom hu-mor ao ser questionado a respei-to do nível ideal da taxa de câmbio. "Quando estava em R$ 1,60, achávamos que precisava a che gar a R$ 2,00", disse. "Agora que foi a R$ 2,00 queremos R$ 2,40", disse, rindo na seqüência.

Segundo o empresário, estu­dos da CNI apontam que o dólar ideal hoje seria de R$ 2,47. Ele salientou, porém, que qualquer mudança de nível deve ser feita de forma paulatina, para ajustar a atuação de todos os agentes econômicos. "Uma valorização do dólar mais abrupta poderia prejudicar as importações, por exemplo. Por isso, tem de ser al­go gradativo. Temos hoje uma política correta."

Ontem, na pesquisa Focus realizada pelo BC com o mercado financeiro, as projeções para a ta­xa de câmbio no fim de 2012 e de

2013 tiveram forte elevação. Pa­ra o fim deste ano, a mediana das proj eções passou de R$ 2,03 para R$ 2,07. Para o fim de 2013, de R$ 2,02 para R$ 2,06.

Entre os analistas com maior porcentual de acerto no levanta­mento, as estimativas são de um dólar ainda mais caro, de R$ 2,11 no fim deste ano e de R$ 2,12 no de 2013.

Para o estrategista do Gredit Agricole Brasil Vladimir Caramaschi, o nível do dólar em R$ 2,10, que até um tempo atrás esta­va mais para o teto da banda, ago­ra está mais para .piso. O grande limitador para ganhos mais acen­tuados do dólar, segundo ele, é a inflação. "Apesar da atividade fraca, repasses do câmbio para os preços podem ocorrer de for­ma mais intensa", afirmou.